Nos últimos dias, o debate sobre a segurança das nossas forças de autoridade reacendeu-se. Focou-se muito o tema na ausência de bodycams e tasers, mas infelizmente a questão é muito mais abrangente. As condições de trabalho de muitos dos nossos agentes são prejudiciais, não só à sua missão de servir e proteger como também pouco dignas para estas pessoas.
Esquadras em Ruínas: Um Problema Ignorado
Em novembro de 2019, surgiram imagens que revelavam a degradação extrema das esquadras e postos portugueses. Estas instalações estavam sem condições mínimas de higiene e segurança (Fonte: Público). Passaram-se cinco anos desde essa denúncia, e apenas recentemente o Ministério da Administração Interna teve a coragem de reconhecer o estado "muito mau" de algumas esquadras (Fonte: Diário do Minho).
Particularmente em Braga, um sindicato da PSP (Fonte: RUM) e a Iniciativa Liberal (Fonte: RUM) têm alertado para o estado deplorável das instalações da PSP e da GNR. Os agentes da GNR, no Comando Territorial de Braga, trabalham em contentores enquanto aguardam um quartel há mais de uma década. Como é que uma força que deve zelar pela segurança pública se se vê obrigada a operar em condições que levaria a própria ASAE a encerrar estabelecimentos privados sem vacilar?
Falta de Equipamento Básico
Não é segredo que as forças de segurança portuguesas enfrentam uma crónica escassez de material (Fonte: Diário do Minho). A questão das bodycams e tasers é apenas a ponta do iceberg. Em muitos casos, as viaturas não estão operacionais. Noutros casos, há apenas promessas de novos equipamentos que tardam sempre a chegar. As bodycams, por exemplo, são um recurso essencial que protege os polícias e reforça a confiança pública, permitindo uma documentação fiável das intervenções. Esperemos que o processo em tribunal, que assombra o concurso público, finalmente termine e as nossas polícias possam beneficiar dessa tecnologia.
Polícias Envelhecidos e Sem Incentivos
A falta de condições, os baixos salários e esta profissão comportar muitos riscos, tornam a profissão de polícia pouco atrativa para os jovens. Em Braga, a idade média dos agentes da PSP é de 46 anos, e muitos poderão pedir a pré-reforma na próxima década. Como será possível assegurar a segurança da cidade se não há uma renovação geracional?
A Câmara Municipal pode e deve intervir
Embora a responsabilidade sobre as forças de segurança seja do Estado, a Câmara Municipal de Braga pode e deve tomar medidas concretas para apoiar as suas forças policiais. Em Famalicão, por exemplo, a autarquia celebrou um contrato de parceria interadministrativa para a requalificação de instalações policiais (Fonte: Diário do Minho). Braga poderia seguir este exemplo e, adicionalmente, providenciar equipamentos, reparar viaturas, ou criar protocolos que melhorem as condições de trabalho e de saúde física e mental dos agentes.
O município pode contribuir muito mais do que apenas "pintar linhas vermelhas no asfalto e organizar festas brancas". O compromisso com a segurança dos bracarenses e o respeito pelas forças de segurança deveria ser uma prioridade. Infelizmente, e como em muitos casos, as prioridades parecem trocadas.
"A pior cegueira é a mental, que faz com que não reconheçamos o que temos pela frente."
José Saramago