1. No dia 31 de outubro o Papa Francisco proferiu um discurso no qual se referiu ao que, em seu entender, deve ser a Comunicação, particularmente a Comunicação Social.
«Com o vosso trabalho e a vossa criatividade, com o uso inteligente dos meios que a tecnologia põe à disposição, mas sobretudo com o vosso coração (comunica-se com o coração!) sois chamados, disse o Papa aos comunicadores, a uma grande e entusiasmante tarefa: construir pontes, quando tantos erguem muros, muros das ideologias; favorecer a comunhão, quando tantos fomentam a divisão; deixar-vos envolver pelos dramas do nosso tempo, quando tantos preferem a indiferença».
2. «Sonho, disse também, com uma comunicação capaz de conectar pessoas e culturas. Com uma comunicação capaz de contar e valorizar histórias e testemunhos que acontecem em todos os cantos do mundo, de os pôr em circulação, oferecendo-os a todos. Com uma comunicação feita de coração a coração, deixando-nos envolver pelo que é humano, deixando-nos ferir pelos dramas que tantos dos nossos irmãos e irmãs vivem. É por isso que vos convido a sair mais, a ousar mais, a arriscar mais, não para difundir as vossas ideias, mas para contar a realidade com honestidade e paixão».
3. «Sonho com uma comunicação que saiba ir além dos slogans e que mantenha os holofotes sobre os pobres, os últimos, os migrantes, as vítimas da guerra. Uma comunicação que favoreça a inclusão, o diálogo, a busca da paz. Com uma comunicação que eduque as pessoas a renunciar um pouco a si para dar espaço ao outro; uma comunicação apaixonada, curiosa e competente, que saiba mergulhar na realidade para a poder narrar».
4. «Não tenhais medo, afirmou ainda, de participar, de mudar, de aprender novas linguagens, de percorrer novos caminhos, de habitar o ambiente digital.
Fazei-o sempre sem vos deixardes absorver pelos instrumentos que utilizais, sem fazer com que o instrumento se torne “mensagem”, sem banalizar, nem “substituir” com o encontro online as relações humanas reais, concretas, de pessoa a pessoa. O Evangelho é uma história de encontros, gestos, olhares, diálogos na rua e à mesa.
Sonho com uma comunicação que saiba testemunhar, hoje, a beleza dos encontros com a samaritana, com Nicodemos, com a adúltera, com o cego Bartimeu... Jesus, como escrevi na nova encíclica Dilexit nos, ‘presta toda a sua atenção às pessoas, às suas preocupações, aos seus sofrimentos’».
5. É mais que oportuno refletir sobre a Comunicação que temos e devemos ter. O bem comum exige a existência de uma Comunicação cada vez mais desenfeudadas, mais independente, mais livre.
Comunicação, serviço à comunidade e não defesa dos interesses dos próprios donos. Comunicação posta ao serviço da verdade, da justiça e da paz e não fábrica de intrigas. Comunicação que, consciente da sua função social, tenha em conta a situação dos mais fragilizados. Alerte para casos inadmissíveis de desumanidade e exploração.
6. É cada vez mais importante saber comunicar. Ter consciência de que, no processo de comunicação, o emissor está sujeito ao recetor.
Que adianta difundir mensagens se o destinatário as não capta?. Se a mensagem não chega ao destino em boas condições como se pode dizer que há comunicação?
Ser bom comunicador é muito diferente de falar para o boneco. E às vezes acontece isso. Fala-se mais para o boneco do que se comunica.
Não se comunica falando a surdos, escrevendo a analfabetos ou enviando mensagens por telemóvel a quem o não possui ou o não sabe usar convenientemente.
A comunicação a que me refiro não consiste em entreter as pessoas com banalidades, fazendo-as perder tempo, nem é uma forma de cantar para adormecer meninos.
7. Reconhecendo as vantagens da comunicação online, que também uso, confesso-me incorrigível defensor da imprensa escrita. Dá mais trabalho, dá mais despesa, mas o mais fácil e o mais económico nem sempre são o melhor caminho. As duas formas de comunicar podem coexistir. E no que respeita à evangelização é vantajoso que coexistam.