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Mês de novembro, mês das almas: o grande amor que Deus nos tem

Começou este mês em que nos encontramos, como é habitual, com os dois primeiros dias a lembrar-nos a todos nós que, como dizia S. Paulo, “aqui não temos morada permanente”. Falamos do dia de Todos os Santos e do dedicado aos Fiéis Defuntos, respectivamente: 1 e 2 de Novembro.


 

A terra é um lugar de passagem para todo o ser humano, e não a única circunstância da sua vida. Morto o corpo, a alma perdura para sempre. Decerto que esta realidade não se deve ao esforço do homem que, com o desenvolvimento dos seus conhecimentos científicos, conseguiu por si mesmo alcançar a imortalidade. É, sim, obra de Deus, um dom que Ele quis para nós, a fim de participarmos – se assim o quisermos – na sua própria entidade, que é eterna. Mas não só eterna, é perfeita e, por isso, capaz de satisfazer todas as exigências que nós podemos ambicionar para ser totalmente felizes.


 

Voltando ao parágrafo inicial, os princípios de Novembro alertam-nos para a nossa verdadeira condição. Não fomos criados para um breve lapso de vida. Pelo contrário, esta transcende os tempos que experimentamos aqui na terra, que é um lugar de mera passagem, muito breve se considerarmos que a imortalidade humana não conhece um termo. Para cada um de nós, há sempre um “antes”, que não vivemos. Mas chegados à existência, esta nunca mais termina, pela imortalidade que Deus nos concedeu. 


 

Certamente que o prémio que o nosso criador nos oferece – uma felicidade perfeita que nunca acaba – requer, da nossa parte, que a queiramos alcançar, lutando durante toda a nossa passagem pela vida terrena por cumprir o que Deus nos pede: humildade para reconhecermos a nossa condição de criatura e cumprimento das indicações que Ele nos dá, quer através da nossa consciência, quer pelos ensinamentos a que temos acesso, através, por exemplo, dos meios que nos deixou para, com mais facilidade, entendermos como proceder: os seus Mandamentos e os ditames que a Igreja fundada por Cristo nos proporciona.


 

Às vezes, talvez nos pareça que as exigências divinas para a nossa conduta são muito severas ou quase inacessíveis. Não esqueçamos, porém, que Deus, omnisciente, é o melhor e o mais perfeito conhecedor das nossas capacidades. Por isso, quando S. Pedro, talvez com um certo receio de exagerar, pergunta a Jesus, em relação ao perdão, se, pelo menos, até sete vezes é aceitável, a resposta que recebe deve tê-lo deixado embasbacado. Porque a bitola de que o Mestre lhe fala é contundente: não até sete vezes, mas até setenta vezes sete.


 

Esta margem tão profunda de desculpar não é a consequência duma espécie de reconhecimento, pela parte de Deus, que a natureza humana, criada por Ele, foi mal “fabricada” ou mal concebida por si, já que o seu comportamento é tantas vezes nefasto e pecaminoso. Deste modo, não tem outro remédio senão perdoar-lhe com tanta frequência. 


 

A perfeição divina é total e absoluta. Criou o homem à sua imagem e semelhança, como nos revela o “Génesis”. O que significa que a criatura humana, na sua semelhança com o seu Criador, pode agir com liberdade. Não está constrangida a obedecer às indicações que Deus lhe dá. Pelo contrário, aceita-as e assume-as se quiser, podendo rejeitá-las, embora este caminho seja, obviamente, negativo, porque não tem a perfeição plena que provém de quem não pode desejar qualquer mal ao ser a que deu origem. A vontade divina a respeito do homem sempre procura o seu bem e jamais qualquer espécie de mal. Por isso, o perdão até setenta vezes sete é uma consequência do amor e do sentido de responsabilidade que Deus tem. As nossas fraquezas não o desiludem nem são capazes de diminuir o seu amor por nós. Convida-nos, no entanto, a reconhecer os nossos erros e a sentir o arrependimento necessário de quem procedeu mal e o sabe . 


 

A falta de contrição é um acto livre e consciente de quem procedeu erradamente. Os braços divinos estão sempre abertos para nos desculpar e nos acolher com o seu amor, enquanto passamos pela terra. A liberdade, no entanto, só existe como realidade verdadeira se é possível aceitar ou rejeitar a vontade de Deus e negar-se a pedir perdão pelos nossos comportamentos negativos e voluntários.


 

No chamado juízo particular, que sucederá imediatamente a seguir à nossa morte, ficaremos imensamente gratos a Cristo pela amplitude da sua capacidade de nos perdoar e do seu esforço em nos encaminhar para a felicidade perfeita - o Reino dos Céus -, apesar dos nossos erros e das nossas fraquezas. Só então entenderemos com perfeição a grandeza e a plena amplitude do amor com que Deus nos trata e nos acolhe.

P. Rui Rosas da Silva

P. Rui Rosas da Silva

6 novembro 2024