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O Mundo em suspenso – A propósito das eleições americanas

Meditar sobre os acontecimentos do mundo que nos perturbam e inquietam é certamente prepararmo-nos para os desafios que poderemos ter de enfrentar, caso os cenários mais indesejáveis se venham a concretizar.

No dia em que ocorrem eleições nos Estados Unidos da América (EUA) que podem mudar a ordem internacional como hoje a conhecemos, façamos votos para que o ato eleitoral decorra com normalidade e que saia vencedora a candidata democrata, Kamala Harris.

A vitória do candidato republicano, Donald Trump, pelo que se tem lido e ouvido e pelo que fez no mandato anterior, levaria a uma política protecionista dos EUA, a um enfraquecimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e a um virar de costas à Europa com todas as consequências que daí adviriam. Internamente, o ex-presidente promoveria uma política de imigração repressiva e avançaria com legislação altamente penalizadora dos direitos das mulheres. Acresce a tudo isto o seu posicionamento sobre a invasão da Ucrânia pela Federação Russa, o apoio incondicional a Israel, bem como a possível retirada de ajuda a Taiwan.

As consequências da possível eleição de Donald Trump não ficariam por aqui. Vladimir Putin, depois de ter tido a presença do secretário-geral da ONU, António Guterres, na cimeira de Kazan que reuniu o grupo de países de mercado emergente (BRICS), sentir-se-ia reforçado para prosseguir a sua ambição imperialista. Uma presença que muitos consideraram muito infeliz por revelar um “apoio escondido” à Rússia, como referiu o presidente ucraniano Zelensky.

Para a União Europeia, a braços com problemas sérios na economia e na sua própria coesão, a possível eleição de Donald Trump seria uma verdadeira catástrofe para os seus desígnios.

Com a manutenção das guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, bem como a tensão económica crescente entre a República Popular da China e os Estados Unidos da América, o que o mundo menos precisa é de um presidente americano que tudo põe em causa, incluindo a própria democracia.

Neste dia em que o mundo está suspenso do resultado das eleições americanas, uma vitória de Kamala Harris não provocará grandes mudanças a nível global. Pelo contrário, a eleição de Donald Trump colocará o mundo em alvoroço e, porventura, levá-lo-á para grandes transformações com desfechos imprevisíveis.

Apesar dos múltiplos e variados estudos de opinião darem um empate técnico entre a candidata democrata e o candidato republicano, tenho esperança de que na hora da verdade o bom senso do povo americano faça a escolha que apague o pesadelo que seria a eleição de Donald Trump.

Um pesadelo que é a dicotomia entre o certo e o duvidoso. Entre a democracia e o despotismo. Ente a liberdade e a submissão. Entre o humanismo e o egoísmo. Entre a igualdade e a diferença. Entre a paz e o conflito. Enfim, a distinção entre um autocrata populista e uma democrata amante da liberdade.

Neste tempo imprevisível que atravessamos, quando caminhamos para a quadra natalícia que se avizinha e que sempre nos revigora, não devemos deixar de refletir sobre as inúmeras incertezas que nos desassossegam.

Na verdade, se nos debruçarmos sobre o que se passa à nossa volta e espraiarmos o nosso olhar um pouco mais além, veremos que o mundo está envolto numa panóplia de guerras e conflitos e suspenso de umas eleições que podem desencadear um conjunto de transformações para as quais poucos estarão preparados.

Oxalá que esta breve reflexão não seja mais do que isso e que amanhã possamos rejubilar com a eleição de Kamala Harris, para bem de quantos amam o progresso, defendem a democracia e anseiam continuar a viver em paz e liberdade.

Este é o meu mais profundo desejo.

J. M. Gonçalves de Oliveira

J. M. Gonçalves de Oliveira

5 novembro 2024