Portugal tem, cerca de 200 Km de largura, no sentido Este-Oeste. Ou seja, a distancia do mar até à fronteira espanhola. Nestes 200 Km apresenta duas realidades bem distintas no seu território. O Interior e o Litoral. O Interior despovoado, deprimido e com mato a mais. O Litoral com gente a mais, com barulho a mais, com poluição a mais. E o drama é que as duas realidades vão se agravando ano após ano. Ou seja, uma cada vez mais “deserta”, outra cada vez mais lotada.
Esta constatação só vem ao cima e é falada, muito falada, excessivamente falada, na altura dos fogos. Retirada a tragédia dos incêndios, a conversa do despovoamento do Interior volta a entrar no rota do esquecimento.
1 - De vez em quando, as promessas carregadas de inovação e de ideias super-idealistas para se inverter ou atenuar a situação do descalabro demográfico das zonas deprimidas do Interior surgem no espectro político com a chancela do “agora é que vai ser”. Livros Brancos escritos por especialistas na matéria dissecam o problema. Comissões de peritos, umas a seguir às outras, formam-se para analisar o problema. Grupos de reflexão reunem-se para elaborar relatórios e encontrar saídas airosas. Benesses, muitas benesses, ilusórias na fiscalidade, são divulgadas para prender as populações locais. São criados outros incentivos para atrair novos moradores. Anda-se nesta conversa das receitas miraculosas para o povoamento do Interior há muito tempo. E nada se resolve. Pelo contrário, os poucos jovens que lá estão, espreitam a mínima oportunidade para zarpar. E quando essa oportunidade surge, lá vão eles à procura de materializar o seu sonho: o Litoral. Pior ainda, quando esses jovens partem para o estrangeiro. Aí, perde-se tudo. Perde-se juventude, talento, renovação geracional. Perde-se tudo! Tudo! Tudo!
2 - O Interior deixou, em definitivo, de ser um sonho ou um bom local para os mais novos viverem e construírem família. Tornou-se num pesadelo. Os incêndios assim o demonstram. O assunto é grave e complexo. Não é fácil prender as populações locais a zonas sem futuro. Não é fácil, não. O Interior não pode só oferecer belezas naturais, silêncios, historinhas ancestrais de grandes feitos. Aldeias de xisto ou vilas encantadas. Gente simples e hospitaleira. Não, não pode!
Vão aparecendo, contudo, experiências de uns tantos urbanos que, em momentos de pura fantasia, se mudam para o Interior e se integrarem em espaços desintegrados. Só experiências!
3 - Não há casas para se viver neste país. É uma constatação. E bem séria! E as que vão existindo no mercado para venda ou para alugar têm custos proibitivos. A mão-de-obra escassa e cara, os materiais de construção sempre a subirem de preço, a burocracia agudiza o problema que se torna cada vez mais problemático. As casas atingem preços praticamente inacessíveis, em que as pessoas, em manif’s reivindicativas - “queremos casa” - não fazem a mínima noção do custo de uma habitação média. Não fazem, não! Ter casa é mesmo incompatível com os salários que se pagam e com o nível de poupança que se faz. Nos dias de hoje, a habitação é, sem dúvida, um dos grandes anseios dos jovens e da classe média para ser resolvido.
4 - A extrema-esquerda culpa o Alojamento Local pela falta de habitação nas grandes cidades, esquecendo, ideologicamente, que foi o Alojamento Local que recuperou as cidades da ruína e dinamizou o Turismo, sector responsável por 33,8 mil milhões de euros em 2023. Também contribuiu com 12,7% para o PIB e foi responsável por metade do crescimento económico verificado.
5 - Como resolver o problema da habitação a médio prazo? Praticamente impossível. A quem compete, em primeira linha, mitigá-lo? Sem dúvida ao sector público (governo e Câmaras Municipais) até para se cumprir o artigo 65º da Constituição da República Portuguesa.
Aqui, neste ponto, dever-se-ia aproveitar esta onda de falta de casas para povoar o Interior do país. Seria uma boa alternativa rejuvenescer o Interior (preferencialmente vilas e cidades) com a construção em força de casas, com investimentos industriais de vulto e com bons serviços públicos para levar muita gente para esta região despovoada. Assim, o país se equilibraria.