No dia 31 de outubro celebrou-se o Dia Mundial da poupança. Nunca fez tanto sentido falar em poupança como hoje, em que os consumidores (todos nós) somos diária e incessantemente convocados para o consumismo por via da publicidade, das redes sociais, dos influencers, enfim de mil e uma maneiras, uma vez que a sociedade de consumo de que fazemos parte glorifica o consumo e o estatuto social é conseguido, na maior parte das vezes, através da ostentação material.
Há 100 anos, realizou-se em Milão o 1.º Congresso Internacional de bancos de Poupança, onde um professor italiano (Filippo Ravizza) propôs celebrar doravante esta data, visando promover a poupança como um valor a ser cultivado e incentivado na sociedade. Em Portugal, a data passou a ter celebração regular a partir de 1969.
A poupança assume hoje uma importância acrescida. Quando pensamos que em 1972 a taxa de poupança das famílias em relação ao rendimento disponível era superior a 30% e em 2022 se situava nos 6% está tudo dito. De facto, sabendo que o sistema previdencial está algo comprometido por força, designadamente, do envelhecimento da população, o que provoca um aumento do número de pensionistas e uma diminuição da população ativa, vários estudos apontam para a constatação de, num futuro próximo (20/30 anos), o valor das reformas poderá representar entre 40 a 60% do valor dos salários que os pensionistas auferiam antes de se reformar. Desta forma, só poupando se conseguirá face a esse brutal decréscimo dos rendimentos.
Apesar dos incentivos à poupança serem poucos, principalmente no momento atual, ainda a sofrer os efeitos de um período inflacionário, em que, por exemplo, o preço das habitações e do arrendamento atingiram valores nunca antes vistos, a poupança é absolutamente necessária e todos a deveriam praticar como se fosse uma obrigação.
O grande problema é, muitas vezes, o impulso inicial. É visto como um grande sacrifício, pôr de parte 10, 100 ou 200€ por mês, porque isso implica cortar no consumo. Mas depois, com o tempo, ao ver o “bolo” crescer, as pessoas começam a entusiasmar-se e a perceber que vale a pena.
Poupar é fundamentalmente uma questão de atitude. Há pessoas com poucos rendimentos que conseguem ainda assim amealhar algo e há os grandes gastadores: por mais que ganhem, dissipam tudo em consumo. Todos são capazes de apontar a história de alguém, por exemplo um futebolista famoso, que ganhou rios de dinheiro e que, volvidos poucos anos após ter pendurado as chuteiras, está absolutamente indigente.
Poucos se darão conta, mas a poupança permite libertar o indivíduo das grilhetas do crédito. Quanto mais recorrermos ao crédito para a satisfação das necessidades, mais responsabilidades financeiras assumimos para o futuro, desta forma condicionando a nossa liberdade financeira. Por outro lado, a constituição de poupanças poderá permitir não apenas adquirirmos os bens de que necessitamos sem ficarmos com responsabilidades financeiras para o futuro (evitando a constituição de créditos), como também nos dá a possibilidade de, através de uma criteriosa aplicação das poupanças, obter benefícios fiscais e ainda um rendimento extra (através, por exemplo, da constituição de um plano poupança reforma, vulgo PPR).
A poupança em detrimento do consumo também contribui para a preservação dos recursos naturais e da melhoria do meio ambiente. Reflita na dicotomia “Consumo Consciente e Poupança Sustentável” porque “mais vale poupar no início do que no fim”.