A ESVV abriu portas em 1986/87 e um dos professores que cá esteve, desde a abertura até à sua merecida (e não convenientemente vivida) reforma, foi o colega e amigo (António) Lago. Mas o nosso Lago, para os vilaverdenses, era o Toninho do conjunto Raízes – o homem das cordas.
Desde sempre a ESVV teve docentes de excelência, todos com virtudes e defeitos. Todos? Quem conheceu o Lago professor, músico, marido, pai, e recente avô, pode contrapor: diz lá um defeito do Lago! E aí, eu fico entalado como quando recebi a sms de uma colega, a dizer: “não sei se já tiveste conhecimento, mas o Lago partiu.” Saiu-me um palavrão, impublicável.
O Lago foi o docente que, qual bombeiro, extinguia fogos em diferentes áreas ou, se quiserem, como músico, tocava vários instrumentos. Não sendo especialista informático era dos que melhor se “mexia” na área. Tanto assim que era o nosso “técnico ENES” onde a premente necessidade de não falhar em prazos, associada à responsabilidade do cargo, faziam com que o eterno suplente – Jorge Macedo – numa rábula natalícia, aludindo ao tema, dissesse que ele se conseguia substituir a si próprio pois, quando por qualquer motivo o “António” não podia, arranjava sempre um jeito de o “Lago” o substituir.
Durante 25 anos integrei a equipa de horários da ESVV. Não me lembro, nunca, de um pedido específico do Lago. Em contrapartida, era sempre requisitado para resolver casos difíceis. A matemática sempre foi (é) uma disciplina causadora de traumas. Muitos alunos optavam por cursos profissionais para “fugir” à matemática, mas esta, perseguia-os aí também. Resultado: aprovados em todas as disciplinas com exceção da… dita. Tinham de fazer recuperação. A norma de a fazerem com o mesmo docente, às vezes – muitas – era esquecida e era chamado o “bombeiro Lago” para extinguir o “fogo”. Começando por os cativar, simplificava o momento avaliativo com o que entendia ser imprescindível e, às vezes, repetia o mesmo teste até a positiva aparecer. Quantos, hoje, já no mercado de trabalho, lhe devem esse humanismo? Li textos de alguns a agradecerem-lhe, postumamente, nas redes sociais. Da sua performance como músico, quem sou eu para falar? Sei, isso sim, que há quem lhe agradeça as primeiras aulas e oferta de uma viola, e no dia do seu funeral ouvimos emocionados um aluno que integrou o conjunto criado na ESVV, os “Lagorítmos” (um trocadilho feliz) agradecer tudo o que ele conseguiu, transformando-se, nos ensaios, em mais um entre eles.
Na ESVV, dizemos: obrigado por tudo, Lago. Os vilaverdenses dirão o mesmo, referindo-se ao Toninho “das cordas”. Todos o mostraram no seu funeral, um dia de enormes emoções. Vila Verde, o corpo docente da ESVV, assistentes e técnicos operacionais e alguns alunos “acamparam” na Igreja, ouvindo sons de música popular portuguesa e assistindo a um pequeno filme de momentos familiares. Vimos professores de 5 diferentes décadas que tendo deixado a nossa escola há muito, ou pouco tempo, não quiseram deixar de prestar homenagem a quem, em vida, (n)os marcou tão positivamente.
Resta-nos a alegria de saber que no céu, a partir de agora, haverá música popular de qualidade e nenhum aluno ficará com a matemática por fazer. Juntamente com alguns colegas que para lá partiram, também precocemente, formarão conselho de turma de excelência e todos ficarão a saber como fomos uns felizardos por termos convivido e aprendido com pessoas com um sentido humanístico a transcender a excelência na docência. Até sempre, Lago.