Cada português gasta, por ano, 350 euros em alimentos que não come, desperdiçando 184 quilos de comida anualmente. Esta é a conclusão de uma empresa que combate o desperdício alimentar – ‘Too good to go’ – a propósito do ‘dia internacional da consciencialização sobre a perda e o desperdício alimentar’, que ocorreu ontem, dia 29.
1. Acreditando nos dados veiculados pela empresa aqui referida poderemos considerar que cada português desperdiça, em média semanalmente, cerca de dois quilos e meio de comida, contabilizando ao final do mês cerca de dez quilos de comida, e fazendo com que o nosso país se situe na quarta posição na União Europeia nesta matéria de desperdício alimentar. Outros dados a ter em conta – segundo a mesma fonte – cada português desperdiça em casa 336 euros em comida por ano, e se cada um gasta em média, em alimentação e bebidas, cerca de três mil euros por ano, então 3,4% deste orçamento “é gasto em alimentos que estão a ser desperdiçados” todos os anos.
2. Sintomaticamente estamos situados no hemisfério rico do Planeta (norte), explorando quantas vezes o hemisfério sul mais empobrecido do que só pobre. Embora possa haver a possibilidade de erradicar a pobreza e a fome, continuamos a gerir um sistema que reproduz cada mais pobres, senão económicos ao menos psicológicos e emocionais. O ‘dia internacional da consciencialização sobre a perda e o desperdício alimentar’ foi proclamado pela resolução 74/2019 da Assembleia Geral da ONU em 19 de dezembro de 2019, fazendo-se eco de uma sensibilização gerada, em 2016, na Dinamarca, quando um grupo de amigos viu ser deitada fora comida que não tinha sido consumida num restaurante, provocando uma aplicação e ligação entre consumidores e restaurantes, supermercados, mercearias e hotéis, permitindo aos utilizadores comprar a preços mais baixos produtos que não iam ser usados.
3. É neste contexto de globalização que podemos e devemos entender estas denúncias e avisos, tanto ao nível geral como em relação a cada um de nós. De facto, o nosso mundo ocidental foi-se deixando fascinar pelo consumismo, provocando necessidades escusadas e alimentando habituações desnecessárias: muito para além da oniomania (vício de comprar compulsivamente) temos de saber identificar e de criteriosamente gerir as subtilezas de um consumismo facilmente justificado, se não nos inquietarmos pelos valores e critérios cristão mais simples e exigentes.
4. Quem não se incomoda em ver crianças a brincarem com o pão, como se fosse uma bola de jogo? Quem não se interroga sobre pratos quase intocados de comidas nas mesas de certos restaurantes e espaços de fast-food’? Quem pode ficar indiferente aos amuos, birras e gritarias de crianças, em público, quando são ‘obrigados’ a comerem o que pediram de forma sôfrega e desmedida? Que dizer às cedências de pais e avós para com os petizes que exigem e depois abandonam certas guloseimas incontidas? Como não sentir repulsa para com certas festas e festanças onde se gastam pequenas fortunas para fazerem notar aos vizinhos – seguidores ou não nas redes sociais – que têm estatuto de pseudo-ricos, embora com bolsa de pobre na hora das contas?
5. Há tanta coisa que precisa de ser tocada com o máximo de frontalidade para que não se continue a viver nesta sociedade de fachada, onde se quer parecer sem ser e onde se deseja mais querer dar boa impressão – mesmo que falsa – do que em se viver na verdade, sem rede nem peias de nada nem quanto a ninguém. Cada vez mais se percebe facilmente se a cara corresponde com o verso, não meramente da moeda mas na vida sincera e leal… do nosso dia-a-dia!
Fui aprendendo, pelos diversos lugares onde tenho vivido, que muitos/as do que se insinuam e ganham ascendente por algum tempo, com facilidade são desmascarados sem tal se terem apercebido.