Com o fim de mais um ciclo olímpico e a consequente avaliação internacional do nosso desporto, aproxima-se um momento das eleições para o Comité Olímpico de Portugal (COP), agendadas para março do próximo ano. Até lá teremos um período de reflexão, onde os futuros candidatos apresentarão os seus programas às federações e organizações associadas. O próximo líder do COP terá a responsabilidade de elevar o nível, tal como os atletas se esforçam por superar as suas marcas. É esperado que se apresente um programa consistente e realista, mas com metas ambiciosas.
Espera-se que os candidatos não se fixem em objetivos para um ciclo eleitoral, de apenas quatro anos, pode não ser suficiente para garantir um contributo efetivo para o desenvolvimento sustentado do desporto nacional. O COP e seus responsáveis devem adotar uma visão estratégica mais ampla, planeando para um horizonte de 12 anos, abrangendo dois ou três ciclos olímpicos (2028, 2032 e 2036). Esta abordagem permitirá uma transformação mais profunda e duradoura, respondendo a desafios atuais e preparando-se para o futuro.
Nos últimos anos, o COP expandiu o seu papel, tornando-se uma entidade mais "eclética", que vai além da simples coordenação da participação portuguesa nos Jogos Olímpicos. O seu trabalho tem sido enriquecido por iniciativas de capacitação dos agentes desportivos e estudos sobre a situação do desporto em Portugal. Com uma equipa qualificada e experiente, o COP está bem posicionado para ser um dos motores de desenvolvimento desportivo no país. Dada essa evolução, será crucial ouvir dos candidatos à liderança do COP quais as suas propostas para setores que, sem uma intervenção ativa, continuarão subaproveitados. Por exemplo, uma possível integração da Confederação de Desporto de Portugal e do Comité Paralímpico num novo Comité Olímpico e Desportivo, garantindo também representatividade mais ampla para as federações não olímpicas, pode ser uma solução para fortalecer o tecido desportivo nacional.
Outro ponto relevante será a Educação Física e o Desporto Escolar, que ainda opera, de certa forma, num "gueto" relativamente ao desporto federado e aos sistema desportivo em geral. A deteção e integração de talento desportivo deve começar com a Escola, aumentando a base de praticantes e alimentando o verdadeiro e consistente “pipeline” para o desporto nacional.
Além disso, os candidatos devem apresentar ideias sobre como criar parcerias produtivas com o sistema de ensino superior, o militar, do turismo e outros setores. A coordenação e otimização dos centros de alto rendimento também exigem atenção, com foco no seu uso eficiente e investimentos estratégicos.
Finalmente, a questão dos media, em particular o papel da RTP enquanto serviço público de desporto, deve ser abordada. Como garantir uma cobertura mais ampla e diversificada do desporto português, promovendo-o junto de um público mais vasto.
Os desafios são significativos, mas as oportunidades são ainda maiores. O próximo ciclo olímpico oferece uma oportunidade única para repensar o papel do COP no desenvolvimento do desporto português, adotando uma visão de longo prazo que tenha impacto social, cultural, educativo, económico e na saúde da população. O futuro do desporto em Portugal também depende do COP, de uma liderança ousada e de um programa que inspire confiança e ação.