Talvez pela vigésima vez, fui convidado para participar num casamento de um antigo aluno. Desta vez, foi a Ana Luísa que contraiu matrimónio, cerimónia que se realizou na Igreja de Sequeira. Aceitei, como sempre, o convite de bom agrado.
1 - O casamento, pela sua natureza humana e social, até cultural, é mesmo um dia que se torna especial por várias razões: é uma festa muito bonita e participada, onde noivos, familiares e amigos convivem com alma e entusiasmo; é uma cerimónia religiosa com significado muito simbólico e até empolgante; gera um ambiente agradável e aconchegante e, depois, como a cereja em cima de um bolo, tem usualmente um serviço de “catering” que prima pela qualidade. Foi tudo isto e ainda mais, que aconteceu no casamento da Ana Luisa. Para enfeitar a festa e dar-lhe uma outra cor, houve música ao vivo, muita agitação e abundante alegria que inundou a fresca Quinta da Pia em Carapeços - Barcelos. No encerramento, o fogo de artifício proporcionou aos noivos um bonito show que alindou mais o evento.
2 - Contou o casamento da Ana Luisa com um convidado muito singular e um pouco fora da “caixa”: a presença do dr. Luís Montenegro, primeiro-ministro de Portugal, primo do noivo. Uma presença vistosa que primou pela simplicidade e pela cordialidade, onde o chefe do governo deu um bom contributo, sereno e elegante, para a beleza deste dia. Nunca pensei que Luís Montenegro tivesse um comportamento tão despido de vaidades e de arrogância que encantou os presentes. Foi uma boa lição de saber-estar no meio de uma “arraia miúda” que confraternizava com entusiasmo e onde estava uma menina que sempre sonhou com este dia.
3 - Fora eu professor do primeiro ciclo com uma experiência de alguns anos no segundo. Durante toda a minha docência, fui prendado pela sorte. Sorte em todos os aspectos. Nunca estive colocado longe de casa, tive bons colegas de trabalho e, essencialmente, saiu-me como “sorte” (privilégio) ter alunos espectaculares, sob o ponto de vista das aprendizagens e dos comportamentos. Formávamos, todos juntos, uma boa equipa. Uma equipa coesa, motivada e disposta a dar o seu melhor. Nunca cheguei ao fim de um dia de trabalho cansado ou zangado com algum aluno, pois era na Escola que eu me divertia e aprendia. Foi na Escola que fiz muitos amigos e me tornei a pessoa que sou hoje. Desde o início da minha carreira estabeleci um lema: um aluno, um filho. Era assim que tratava os meus alunos, sem desvirtuar o rigor, a exigência e o respeito. Estes pressupostos estavam sempre presentes na acção educativa. Os alunos, sabiam disso, e entregavam-se com entusiasmo nas propostas de trabalho. Tínhamos tempo para tudo. Para trabalhar, para brincar e para organizar visitas, levar à cena peças de teatro ou promover encontros desportivos entre Escolas. A minha Escola tinha vitalidade e era muita dinâmica.
Fui um professor com muita sorte, sem dúvida. Sorte por ter alunos como a Ana Luisa, cujas memórias escolares estão bem vivas na sua vida. Daí, não se esquecer de mim, o que muito lhe agradeci e agradeço.
4 - Voltemos um pouco a Luís Montenegro. Vê-lo a dançar, a conviver despreocupadamente, a conversar, a divertir-se foi mesmo um momento simpático e surpreendente. Dei-lhe parabéns, pela sua atitude liberta de preconceitos e pelo bom desempenho que tem tido na governação do país e pela equipa excelente que escolheu. Desejo aos noivos muita sorte e que sejam felizes. Ao primeiro-ministro também muita sorte na sua função política e que desempenhe com arrojo e visão a difícil tarefa de dar a este país uma outra oportunidade de se impor no quadro europeu e ajude a construir um futuro com outro norte à nossa gente. Eu acredito que acontecerá.