Num artigo dum conhecido semanário do nosso país, observava-se, no seu título, que Portugal nunca teve tantas pessoas como neste ano: 10 milhões e 600 mil habitantes. No entanto – e bem –, não, deixava de assinalar que tal crescimento populacional não se deve à fecundidade lusitana, mas, em boa parte, ao número de emigrantes que tem entrado no nosso país.
Por outro lado, faz ainda notar que, no ano passado, nasceram entre nós cerca de 18.000 bebés, filhos de mãe estrangeira, o que aumentou praticamente para o dobro do ocorrido em 2018. Ou seja, são bem vindos ao nosso país estes novos habitantes, mas as mães portuguesas estão a concorrer com força esmaecida para este aumento da população.
Há poucos dias, fui visitar um amigo adoentado a uma aldeia mais ou menos perdida do centro do país. Passei por um café com algumas mesas no seu exterior. E procurei perguntar a dois consumidores de bebidas conhecidas, que se encontravam sentados, conversando animadamente entre si, onde se situava a casa da pessoa que eu queria encontrar. A resposta, que me surpreendeu, foi: “Não sabe falar...” Eram trabalhadores estrangeiros, não sei de que lugar do mundo. Mas aí estavam, num sítio onde eu nunca julguei que houvesse senão portugueses.
Com certeza que esta observação não significa, da minha parte, qualquer censura ou má vontade em relação a quem vem para Portugal trabalhar. Pelo contrário, há um agradecimento profundo por nos terem escolhido, certamente por aqui encontraram condições de vida mais aprazíveis do que na sua terra natal.
No entanto, para quem, durante toda a sua vida, viu, da sua terra e de todo o país, saírem muitos milhares e milhares de portugueses para o estrangeiro, na busca de melhores condições de trabalho e de existência, não deixou de se sentir surpreendido.
Referi um artigo que tive oportunidade de consultar. E aí se diz também, com que me regozijo, que o índice de fecundidade tem aumentado por mulher em idade fértil, já que se em 2022 foi de 1,42, subiu para 1,44 em 2023. No entanto, o aumento é pequeno, como se nota, mas, mesmo assim, coloca o nosso país numa melhor posição relativamente a outros europeus e da OCDE. E acrescenta que apenas Portugal e a Nova Zelândia (salvo erro, nossos antípodas), entre os países da citada OCDE, conseguiram apresentar um aumento de fecundidade em 2022. Embora tais números continuem a ser bastante frouxos.
Parece, assim, que a fecundidade não está de moda. Pelo contrário, os casais contêm-se muito neste campo. Em contrapartida, se têm voluntariamente poucos descendentes, também voluntariamente e com facilidade se desfazem. O que significa que a contenção voluntária na descendência parece facilitar as ruínas do entendimento e da estabilidade dos mesmos casais. Quem sofre mais são os filhos, que vêem pai e mãe, que os trouxeram ao mundo, cada um para seu lado. Habitualmente, vivem com a mãe e visitam o pai, de tempos a tempos, de acordo com um formulário que o tribunal elaborou. E recordo a tristeza de um rapaz que me dizia: “De quinze em quinze dias estou com o meu pai. Quando entro na sua casa - vive com uma senhora que me trata com certa frieza e não gosta muito que eu me entenda com a filha e o filho do seu anterior matrimónio - procuro ser o mais amável possível. Mas os melhores momentos são os que passo com o meu pai, sempre que ele me convida a dar uma volta para lanchar - só eu e ele - na esplanada de algum café...”
Há pouco tive oportunidade de visitar um casal amigo, que conta, dentro de algum tempo, acolher no seu lar o sétimo filho. Dei-lhe os parabéns e alegrei-me muito com o que ouvi da mãe. Ela sabia que eu sou o oitavo rebento de uma família com nove descendentes, três dos quais já não estão entre nós. “Vai ver que ainda chegaremos ao oitavo, se tudo correr bem...” E o marido, colega de sempre desde a minha infância, comentou: “Pelo menos... O futuro a Deus pertence...” E rimo-nos todos com satisfação deste seu comentário...