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Aqui chegados

Aqui chegados, tal como qualquer bom viandante de Secas e Mecas e olivais de Santarém, de albornoz, bordão, sandálias e taleigo ao ombro ajoujado de moengas que são os estigmas de um tempo em que vivemos carregado de contradições, espantos e medos; como os de ver que o Homem, quanto mais avança em saber, tecnologia e formas de convivência social, mais brinquedos inventa para se destruir e destruir os outros, ou seja de consentir, por exemplo, a morte de crianças indefesas pela fome, pela doença, pela guerra.

E que vemos, então? Um país politicamente a meio gás, há muito governado a quatro ou cinco velocidades, qual delas a mais lenta e perniciosa; e sem oposições que se oponham e soluções que se revelam cada vez mais situacionistas e que são as do posso, quero e mando.

Todavia, um país das maravilhas com cenas eventualmente chocantes onde têm pontificado políticos corruptos, demagógicos, mentirosos e incompetentes – obviamente cenas que logo são aproveitadas por grupos politiqueiros para desenferrujarem as suas correias de transmissão nos respetivos aparelhos de propaganda; e, sobretudo, onde sobressaem certas figuras políticas como forças de bloqueio com défice democrático, quais atores de telenovelas em saldo para levantar o ego nacional.

Depois, são os arroubos míticos do mundo dos futebóis com dirigentes salvadores de campeonatos e de clubes e companhia ilimitada, onde as trocas e baldrocas são mais que muitas (porque não nacionalizar já o futebol e fazer de cada jogador, treinador e dirigente um funcionário público contratado e pago a recibo verde?); e, então, lindo de se ver e gozar é mesmo a saga da conquista do primeiro lugar da tabela num campeonato suado e renhido, disputado taco-a-taco com imensa salgalhada verbal à mistura.

Mas, mesmo de gelar os neurónios e a espinha ou secar o sangue nas veias são as parangonas de certos jornais e telejornais (esta informação versus desinformação) qual espetáculo a pedir arrocho, onde se afirma, preto no branco, que o povo português é uma raça em rápida extinção (sic); e muito simplesmente porque já se não fazem filhos ou se fazem a um ritmo e programação de conta-gotas, como concluiu certo investigador, após quilómetros e quilómetros de estatísticas bem capazes de pôr os cabelos em pé aos mais puritanos e chauvinistas.

E, aqui para nós que ninguém nos ouve, não será para menos a pergunta sacramental: onde para, o que é feito do tão, outrora, celebrado macho latino?

Para onde se escapuliu o sangue quente de marialvas, sades, dom-joões, zés camarinhas e outros que tais? Onde estão os verdadeiros, os ardentes promotores da raça de antanho?

Não, assim, não! Se algum exemplo demos ao mundo ele foi o de nunca recuarmos em matéria de saias ou saiotes, como o comprova a miscigenação já mais do que quingentésima por áfricas, brasis, cochinchinas e freixos-de-espadas ao ombro.

Agora, esta aberração natural que não conduz ao desejado fim procriador de homem a casar com homem e mulher a casar com mulher que tem feito as delícias libidinosas de muitos atores políticos de certa esquerda e de certa direita disfuncionais, caramba, a até leva a crer que ainda venha a ser preciso, em prol da procriação e defesa da lusitanidade, mandar tocar a furriéis, puxando pela virilidade e mandando apontar e disparar os fuzis, mas sem os tais protetores de boca; porque com o reclame que por aí anda ao uso de preservativos, abortos, desmanches e inversões de género, não nos admiremos que sejamos, num futuro breve, um povo de frouxos e cotonetes em vias de extinção.

Como diria o Francisquinho, homem de muita sabedoria empírica e popular: já não me revejo neste mau desempenho procriador lusitano que, obviamente, não abona a favor da manutenção da nobre e épica espécie que os nossos maiores, de permeio com gamas e cabrais, tanto promoveram por esse mundo além.

Então, até de hoje a oito.

Dinis Salgado

Dinis Salgado

26 junho 2024