Nutro por S. Luís Gonzaga – a sua Memória Litúrgica celebrou-se no passado dia 21 – um apreço que vem de longa data: dos tempos em que frequentei o Seminário Menor (1978 a 1983), em cuja capela havia uma imagem sua; e de quando, tendo chegado a Roma para estudar Ciências Bíblicas (ano de 1995), visitei a belíssima Igreja de Santo Inácio e nela me deparei com uma urna de lápis-lazúli, contendo os seus restos mortais. Há muito que o seu nome e a sua invocação como padroeiro da juventude e dos estudantes me são familiares.
Luís Gonzaga nasceu a 9 de março de 1568, em Castiglione delle Stiviere, entre Brescia e Mantova (norte de Itália). Era filho de Ferrante Gonzaga, marquês de Castiglione, e de Marta Tana di Santena, da famosa família piemontesa Della Rovere. Luís era o mais velho de sete irmãos e, como primogénito, cabia-lhe herdar de seu pai o título de marquês. Tendo decidido que o filho se tornaria soldado (a aristocracia da época andava sempre envolvida em pequenas guerras), o pai ofereceu-lhe um conjunto de armas em miniatura. Luís aprendeu “a arte das armas”, mas também um vocabulário impróprio para a idade, deixando preocupados o tutor e a mãe.
Em 1576, tinha apenas 8 anos, foi para Florença, a fim de servir na corte do grão-duque Francisco I de Medici e aí receber educação adicional. Uma doença renal deu-lhe a oportunidade de ler sobre os santos e passar muito tempo em oração. Em 1579, retornou a Castiglione e, em 22 de julho de 1580, recebeu a Primeira Comunhão das mãos do cardeal Carlo Borromeo. A leitura de um livro sobre os missionários jesuítas na Índia fê-lo sentir um forte desejo de ser missionário. Visitou, por essa altura, várias casas religiosas e adotou um estilo ascético de vida.
Em 1581, a família foi chamada para Espanha, tendo chegado a Madrid em março de 1582. Luís e o seu irmão Rodolfo tornaram-se pajens do jovem infante Diego. Tendo aí um confessor jesuíta, Luís decidiu ingressar na Companhia de Jesus. A mãe concordou com a decisão, mas o pai ficou furioso e quis impedi-lo de tal. Porque o infante faleceu, a família regressou à Itália, em julho de 1584. Luís mantinha os seus intentos, apesar de vários membros da sua família tentarem demovê-lo. Apresentaram-lhe como alternativa o sacerdócio secular, oferecendo-se até para lhe providenciar um bispado. Se se tornasse jesuíta, renunciaria a qualquer direito à sua herança e status social.
Em novembro de 1585, tendo renunciado a tudo, foi para Roma e, pouco depois, começou o noviciado na Companhia de Jesus. Quando, em 1591, eclodiu em Roma uma epidemia e os jesuítas abriram um hospital para a combater, Luís cuidou das vítimas da peste, juntamente com S. Camilo de Lélis. Confidenciou ao seu confessor, o Padre Roberto Belarmino, que lhe custava muito, mas o fazia por amor e com profunda convicção.
Um dia, viu um doente abandonado na rua, quase morto. Colocou-o às costas e levou-o para o hospital. Teria sido aí que ficou infetado e com a sensação de que morreria em breve. Recebeu a Santa Unção, falou várias vezes com o seu confessor e, no dia 21 de junho de 1591, pouco antes de o dia terminar, faleceu com os olhos postos no crucifixo e enquanto pronunciava o nome de Jesus.
Luís Gonzaga foi beatificado a 19 de outubro de 1605, pelo Papa Paulo V, e canonizado a 31 de dezembro de 1726, pelo Papa Bento XIII. Foi este quem, em 1729, o declarou padroeiro dos estudantes. Duzentos anos depois, em 1926, o Papa Pio XI nomeou-o padroeiro de toda a juventude católica. Pela compaixão e coragem que manifestou perante as doenças incuráveis, João Paulo II nomeou-o, em 1991, padroeiro dos pacientes de SIDA. É ainda o padroeiro de Valmontone, uma cidade a cerca de 50 quilómetros a sul de Roma.
Da sua vida, destacam-se a pureza e a penitência, duas virtudes que continuam atuais para todos os cristãos e mesmo para os mais jovens. Estranhamente, Luís Gonzaga não constou da lista dos santos patronos da Jornada Mundial da Juventude 2023, mas faria sentido que tal tivesse acontecido, dado tratar-se do padroeiro da juventude e dos estudantes.