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P. Alberto Gonçalves Gomes

1. Li há dias o livro «Pe. Alberto Gonçalves Gomes», fundador da Obra do Amor Divino, da autoria de José Abílio Coelho. 

Escrito com a finalidade de lembrar aquele sacerdote, meio século após o seu falecimento, numa primeira parte informa do contexto histórico, social, cultural e religioso em que decorreu a sua existência terrena. Lembra a evolução verificada na freguesia de Travassos (Póvoa de Lanhoso), conhecida pela indústria de ourivesaria (filigrana), as dificuldades criadas à Igreja por ocasião da Primeira República, os tempos nada fáceis da II Guerra Mundial.

A segunda parte é dedicada à vida e obra do P. Alberto Gonçalves Gomes, com particular relevo para a Obra do Amor Divino, de que foi fundador, centrada na espiritualidade reparadora.


 

2. O Padre Alberto nasceu em Travassos em 17 de agosto de 1888 e em outubro de 1904 entrou no Seminário de Santo António, em Braga. 

Quando se preparava para frequentar Teologia no Seminário de Santiago foi surpreendido pela persecutória Lei da Separação de 20 de abril de 1911, na sequência da qual a Arquidiocese se viu privada daquele estabelecimento de formação sacerdotal. Teve de completar o curso em distintos edifícios da cidade. As aulas do último ano foram na Rua do Raio, num prédio pertencente a Queirós Rechicho, onde recebeu o subdiaconado e o diaconado. Veio a ser ordenado sacerdote no Porto, por D. António Barroso, em 26 de junho de 1914.


 

3. De saúde débil, começou por ser capelão da Real Irmandade de Nossa Senhora de Porto d’Ave. Em Caldas das Taipas auxiliou os padres Antunes Ferreira e Clemente Ramos. Em janeiro de 1916 foi nomeado pároco da sua terra natal, S. Martinho de Travassos. Porque a residência paroquial, expropriada pelo Estado, tinha sido vendida em hasta pública, viveu em casa da família.

Em Travassos exerceu o ministério sacerdotal durante cinquenta e três anos (1916-1969). empenhando-se no desenvolvimento da paróquia e da freguesia. Durante algum tempo teve também, como anexas, ora a paróquia de São Tiago de Oliveira ora a de São Paio de Brunhais.

Como pároco fundou em 24 de março de 1923 a Juventude Católica de Travassos cujos membros eram aconselhados a praticar diariamente, pelo menos uma obra de caridade social. Posteriormente surgiram a Pia União das Filhas de Maria, a associação Os Filhos da Imaculada, a Cruzada Eucarística. 

O que lhe deu maior projeção foi a Obra do Amor Divino, destinada à reparação pelos pecados que se cometem. Principiou em 1921 embora a aprovação canónica só viesse anos mais tarde. Cedo teve núcleos em diversos pontos do Continente, Açores e Madeira. No edifício-sede fazem-se encontros de formação e retiros e há, diariamente, um tempo de adoração reparadora ao Santíssimo Sacramento.


 

4. O Padre Alberto foi confessor e diretor espiritual da Beata Alexandrina de Balsar durante os últimos treze anos de vida terrena, entre 1942 e 1955. Exerceu este ministério a pedido do Padre Mariano Pinho, da Companhia de Jesus, a quem sucedeu. Tinha conhecido pessoalmente a Alexandrina numa visita que lhe fez em 12 de setembro de 1934.

O livro salienta a ação do Padre Alberto como orador. Como amigo particularmente das crianças e dos pobres. Como autor dos livros «A minha comunhão diária», «Via-Sacra Reparadora», «Memórias da minha breve vida». Como amante da fotografia.


 

5. O Padre Alberto preocupou-se também com a freguesia de Travassos, para cujo desenvolvimento contribuiu.

Através da Juventude Católica e da Tuna Travessense, que fundou, promoveu com regularidade a realização de espetáculos de variedades e teatrais, com a interpretação de peças da sua autoria.

Conseguiu que um parente seu, João da Costa Macedo, emigrado no Brasil, custeasse uma nova escola para o Ensino Básico, inaugurada em 1942.

Faleceu em casa da família, em 29 de março de 1974.


 

6. José Abílio Coelho é historiador, investigador do Lab2Pt da Universidade do Minho e coordenador do Arquivo Histórico da Misericórdia da Póvoa de Lanhoso.

Silva Araújo

Silva Araújo

20 junho 2024