Como o São João já está na rua, a guerrilha política nacional bem acesa, a União Europeia invadida pelas direitas extremistas e cada vez mais a desunir-se, os gastos excedendo os ganhos, por cada novo-rico que aparece, cem pobres crescem nas estatísticas, as desigualdades sociais que se vão combatendo com espadas de pau, esta vida são dois dias, tristezas não pagam dívidas e quem canta seu mal espanta, aí vão, caro Leitor, umas quadrinhas quase soltas para serem trauteadas muito ao jeito popular ou para serem assobiadas ou cantadas ao som da marcha sanjoanina cá do sítio como mandam as regras do bairrismo, e num oportuno jubileu a São João que este ano não é só de Braga, mas do Minho e de Portugal.
Por isso, meus amigos, coragem, e toca a afinar o assobio e a preparar o martelinho para a grande noitada que se avizinha; e como não há nada como um São João da Ponte bem cantado, na sua versão mais moderna, aqui vai a letra.
E repenica, repenica, repenica,
Tanta gente a suar em bica.
E repapoila, repapoila, repapoila
P'ra meter a mão na caçoila
São João veio à cidade
P’ra ver a festa que tinha.
Viu tanta gente apinhada
Que ficou zonzo da pinha.
Com tanta gente apinhada
O que se passa, afinal?
É o São João de Braga,
Do Minho e de Portugal.
A cidade cresce, cresce
Em barulho e baldaria
E assim como cresce, desce
Em conforto e cortesia.
Ó meu São João da Ponte
Já que a festa é toda tua
Tu que és santo popular
Vem com o povo p'rá rua.
Traz o manjerico e o alho,
Coisas que o povo trocou
P'lo cravo que dos maus tratos
Há muito tempo murchou.
Traz bom senso e inspiração
Ao povo que tal não sente
Para pôr a governantes
Gente honesta e competente.
Não te esqueças que é preciso
Dar para trás no focinho
Desses que metem as mãos
No bolso do Zé Povinho.
É que tais bichos caretas
Com base em grande paleio,
Engordam muito e depressa
E ninguém lhes mete o freio.
Quando se perde a vergonha,
São João tu sabes bem,
Que há muita gente capaz
De vender a própria mãe.
E se depois disto tudo
Não for pedir-te de mais
Vê se acabas c'oas comadres,
Compadres e coisas tais.
É que, São João da Ponte,
Se não te pões à tabela
Inda fazem uma torre
Onde tens tua capela.
Certas ruas da cidade
São modelos estupendos
De pisos ornamentados
De buracos e remendos.
E o trânsito automóvel
Com tanto perigo à espreita
Ao escapar dos buracos
Esbarra em muita maleita.
E o arranjo da Avenida
Da Liberdade chamada
De bom exemplo servia
P'ra pôr fim à bagunçada.
E se ao redor da fogueira
Agora só cinzas tem,
Adeus São João da Ponte
Até ao ano que vem.
E, agora, caro Leitor, bom apetite para a tradicional sardinhada, comida com broa fresca e regada com tintol verde e vistas largas para o fogo-de-artificio no Picoto, à meia-noite; e, sobretudo, pernas rijas para o bailarico no arraial, ademais, só daqui a um ano é que o São João regressa com toda a sua cor e magia.
Então até de hoje a oito.