Ainda no rescaldo das eleições europeias há alguns comportamentos políticos de certos líderes partidários que é importante analisar para a formulação de opinião quanto às suas propostas e atuação política.
É isso a que, sucintamente, nos propomos neste artigo.
O CHEGA deve ter percebido que terá poucas hipóteses de manter ou reforçar a expressão eleitoral conseguida nas últimas legislativas, se continuar a ser um partido de um homem só.
Se a intenção de André Ventura for a de ser o único grande protagonista, então escolheu o cabeça de lista certo nestas eleições europeias, mas, a continuar assim, a tendência será sempre para descer.
Apesar dos resultados políticos do inicialmente único deputado ao Parlamento do CHEGA terem sido verdadeiramente notáveis, o CHEGA tem de perceber que precisa de acrescentar ideologia – não pode viver do vento ou das circunstâncias –, precisa de ter quadros competentes e precisa também de ter outra estratégia.
Não basta ao CHEGA ser a direita da direita, conservador ou mais nacionalista, dado que isso são caraterísticas demasiado generalistas para se poder afirmar.
Como disse António Costa na noite eleitoral o grupo parlamentar do partido mais à direita do Parlamento não deverá acabar a legislatura sem grandes convulsões internas, piorando a sua imagem pública cada vez que os seus protagonistas sejam mais conhecidos.
Quanto estratégia política, o CHEGA parece desorientado. É que se no passado, com uma maioria absoluta socialista, com os portugueses a viverem cada vez pior e com o líder do PSD ainda em fase de afirmação, tinha um terreno fértil de crescimento, como os resultados eleitorais exprimiram, desta vez a situação é muito diferente.
Em primeiro lugar, grande parte do eleitorado heterogéneo do CHEGA não irá entender que não haja uma aproximação ao PSD e que, pelo contrário, esteja em conflito permanente. E esse eleitorado ainda entenderá menos que o CHEGA vote com o PS na obstrução às políticas governativas.
Em segundo lugar, Luis Montenegro é um político inteligentíssimo que sabe governar, que em pouco tempo conseguiu uma alta taxa de credibilidade, que tem a atuação e palavra no tempo e no lugar certo, que constituiu uma grande equipa governativa com quem trabalha muito bem e que está a imprimir a dinâmica reformadora timbre dos governos sociais-democratas.
Assim, será curioso perceber se André Ventura conseguirá encontrar a passada e a estratégia certa, o que até agora não conseguiu como o péssimo resultado das eleições europeias demonstraram.
Quanto ao Bloco de Esquerda e Catarina Martins e Bloco a cada eleição descem mais.
O Bloco de Esquerda, a começar pelo seu nome, é um partido enganador. Nunca deveria chamar-se Bloco de Esquerda que lhe dá uma falsa faceta de moderado, mas antes dever-se-ia chamar, para ser verdadeiro, Bloco Comunista . Um partido estatizante em tudo, que defende a saída de Portugal da NATO, que pretende que o povo ucraniano não tenha autonomia nas suas opções políticas democráticas e que fala em paz num contexto idílico e perfeitamente irrealista que apenas reforça o opressor russo, diz muito sobre ao que verdadeiramente vem.
Com a patética cena de teatro na noite eleitoral onde pareciam que tinham ganho quando perderam um dos dois deputados que tinha, percebeu-se que Catarina Martins prolonga na atuação política as caraterísticas do seu passado de atriz. Só que o país e a vida das pessoas não são um grande palco de teatro.
Quem também ainda não encontrou a passada certa foi Pedro Nuno dos Santos, apesar de Marta Temido, com o seu sorriso e simpatia acompanhada com a desculpa da pandemia, ter conseguido disfarçar os péssimos resultados para o país da sua atuação como ministra.
É sabido que não é reconhecido ao líder do PS grandes atributos quer como ministro quer como administrador ou gestor de qualquer entidade pública ou privada e, antes pelo contrário, quando teve lugares de responsabilidade não deixou nada de relevo que o dignifique do ponto de vista político.
Pedro Nuno Santos, revela bem a sua fragilidade pelo extremar de posições nestes últimos tempos, desde que António Costa, na última noite eleitoral, decretou a carta de alforria do PS devido aos resultados do CHEGA uma vez que, segundo ele, este nunca arriscaria ir a eleições proximamente.
Luís Montenegro, pelo contrário, encontrou rapidamente a passada correta, sendo inquebrantável no caminho que decidiu percorrer.
Ao analisar a prestação de Pedro Nuno Santos face à de Luís Montenegro percebe-se bem a frase do escritor norte americano James Freeman Clark: a diferença entre um político e um estadista é que o político pensa na próxima eleição enquanto o estadista olha para a próxima geração.