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Lembrar a quem esquece

 

 

Quando um país, como Portugal, se dá ao luxo de desperdiçar capacidades e competências humanas, que as há, só porque elas não pertencem ao partido A, B, C, ou D, nada de bom se pode esperar em termos de boa gestão. Cito, a exemplo, a chamada de atenção da atual Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, para o facto de termos “lideranças hospitalares fracas” no Serviço Nacional de Saúde. O que a mim nada me surpreende porquanto, de há uns anos para cá, tudo está pior. E porquê? Porque durante cinco décadas de democracia o que se tem visto são, apenas, trocas e baldrocas na gestão da Administração Pública (AP).

Ora, quando oiço e leio, de quem comenta a vida política nacional, críticas às substituições efetuadas por este Governo da Aliança Democrática (AD), fico perplexo. Isto, porque sempre se verificaram mudanças de caras na AP pelos dois maiores partidos que se alternam no poder: o Partido Social Democrata (PSD) e Partido Socialista (PS). Sobretudo, admiro-me com quem esteve calado durante oito anos da governação socialista em que se processou um forrobodó de portas giratórias jamais visto – por onde passaram ex-ministros, ex-Secretários de Estado, familiares e amigos do PS – venha agora dizer que chegaram os “videirinhos”.

Daí, não conseguir ver qual o espanto em relação à atuação deste executivo AD, sob a tutela de Luís Montenegro, bem como à anterior do PS, de António Costa, ou a que se seguirá com Pedro N. Santos. Uma vez que está a ser dada continuidade a uma prática que quem detém o poder muito estima, ou seja, colocar as clientelas partidárias em lugares-chave do Estado. Já que é por via disso que elas cantam, gritam, agitam bandeiras, aplaudem e seguem o líder do Partido com fé na recompensa. 

Depois, nem seria plausível manter gente do aparelho do partido que sai em lugares de importância vital para o programa eleitoral do que entrou. Pelo que, assim sendo, não vejo qual a novidade das mudanças de: Fernando Araújo, na Direção Executiva do SNS, por António Gandra Almeida; José Furtado nas Águas de Portugal, por Carmona Rodrigues (embora ambos saídos pelo seu próprio pé, conscientes da incompatibilidade das políticas propostas pelo novo executivo para os setores); da Ana Jorge, na Santa Casa da Misericórdia, por Paulo Alexandre Sousa e de Barros Correia, Diretor a Polícia de Segurança Pública, por Luís Carrilho, a que se lhes seguirão outros. 

Eu, pelo menos, ficaria admirado é se não houvesse mutações, já que elas se processam desde a República de Roma, (88 a.C.), com os generais Mário e Cila, em que um despachava os fiéis do outro logo que chegava ao poder e vice-versa, mas que se demonstraram não só necessárias, como úteis para a respetiva governança. Caso contrário tornar-se-iam, como é costume dizer-se, em forças de bloqueio. Ou seja, não só engonhando para o desgaste da força política em funções governativas, como em favor da ascensão da oposição ao poder. Isto, porque se amanhã tivermos qualquer outro partido, mais votado, a aceder ao poleiro governativo aposto que faria, exatamente, o mesmo. 

Portanto, permito-me lembrar a quem esquece que a competência, o mérito, a honestidade, o amor ao povo e à Pátria, nada disso importa aos partidos políticos. Pois falar-se nisso, hoje, é o mesmo que apelar para um outro mundo; uma outra conduta, algo arredada dos manuais do sentido de Estado e do bem para o país. Senão veja-se a recente colagem de Montenegro à candidatura de Costa para Presidente do Conselho Europeu, quando aquele se fartou de o apelidar de incompetente. 

É óbvio que CDS não foi uma mais-valia para o PSD, uma vez que perdeu as europeias. Já o PS não só as venceu, como mantém muitos dos seus em diversos cargos da AP. Como no caso da televisão pública onde mantém o seu freteiro comentário político. Sem esquecer o Banco de Portugal, onde está um Governador, que já começou a lançar sérios avisos à navegação deste Governo. Será que se fosse no anterior o faria? Duvido! 

 

 

Narciso Mendes

Narciso Mendes

17 junho 2024