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“Vou tomar isto toda a vida?”

 

Esta frase é múltiplas vezes repetida na consulta de psiquiatria. 

É quase um senso comum, a ideia de que a doença mental é controlada pela “força de vontade” e estar medicado com psicofármacos é um sinal de fraqueza e carrega sempre uma conotação de “loucura” e preconceito.

É tarefa fundamental dos técnicos de Saúde Mental, fazer psicoeducação constante aos pacientes, familiares e inclusive a outros profissionais de saúde sobre a doença mental, mas mais importante sobre os tratamentos farmacológicos e a importância dos mesmos.

A segurança dos psicofármacos melhorou muito nos últimos anos, bem como o seu perfil de tolerabilidade e de toxicidade comportamental, que outrora trazia grande comprometimento na funcionalidade do paciente que estava medicado. 

Termos como dependência, sonolência, apatia, ou mesmo ficar “drogado” fazem parte das preocupações a quem é prescrito um psicofármaco. Se é verdade que existe uma variação individual de resposta aos tratamentos, o perfil do fármaco tem de ser bem explicado ao paciente. Com acesso generalizado a informação fácil com conteúdos pseudocientíficos, redes sociais a multiplicar ideias erradas e distorcidas sobre os psicofármacos e seus efeitos, vários são os canais que contribuem para o aumento da desinformação e crescimento do preconceito sobre o a "desgraça de quem foi apanhado nas teias dos psiquiatras”.

Mas o termo dependência é o que parece mais preocupar as pessoas! Dependente é precisar do medicamento para tratar uma doença ou um sintoma? Então se assim é, as pessoas também estão dependentes dos antihipertensores, dos antidiabéticos, das hormonas tiroideias e por aí fora, medicamentos prescritos para tratar as suas doenças crónicas.  

O modelo etiopatogénico das patologias psiquiátricas, tem sempre questões neuroquímicas presentes, por isso não difere das intervenções farmacológicas das outras patologias. 

São naturalmente tratamentos individualizados, sendo que “o que ajudou e serviu para tratar alguém que conhecemos, pode não ser o mais indicado para nós”.

Concluindo, se a pessoa sofre e uma afeção psiquiátrica crónica, e se a medicação a mantém estabilizada e funcional, por que razão há-de querer suspender o tratamento?  

A verdade, é que o fazem sempre com mais ligeireza com os psicofármacos do que com os tratamentos para outras afeções crónicas. 

É importante desmistificar. É importante “levar a sério” os tratamentos prescritos. 

São naturalmente tratamentos individualizados, sendo que o que ajudou e serviu para tratar alguém que conhecemos, pode não ser o mais indicado para nós!

Irmãs Hospitaleiras

Irmãs Hospitaleiras

15 junho 2024