Dizem “eles”, os comentaristas, que a democracia está a passar por uma fase complicada e em degradação. Dizem “eles” que a democracia corre perigo de sobreviver perante a ofensiva eleitoral extremista de direita. Dizem “eles” muitas coisas insensatas e até completamente disparatadas. Eles dizem tudo e mais alguma, é verdade, só não dizem quem são os responsáveis pela degradação, pelo estado anémico e pelo descrédito a que chegou a democracia lusa. E convinha que o dissessem para se fazer um claro e rigoroso diagnóstico.
1 - Claro! Não concordo com o retrato que uns tantos fazem da democracia. A democracia, pela sua natureza humanista e tolerante, não corre qualquer perigo e tem energias suficientes para se aguentar e poder responder aos desafios da actualidade que são muitos e muito complexos Como se poderia perder um regime tão aberto a ideias diferentes e tão livre em todas as suas dimensões? Deve haver, por aí, cabecinhas pensantes desajuizadas que aspiram a marcar uma agenda de medos e de confusões, quando a democracia é por natureza a sua antítese.
Se a democracia se impôs no PREC, à ideologia totalitária comunista, não será agora com o Chega que haverá o tal perigo de morte do regime. Isso é uma fantasia alimentada por aqueles que têm contas lambebotadas a ajustar com os portugueses.
2 - Mesmo com tantos e tantos abusos de poder, de nepotismo descarado, de negociatas e de outros atropelos que se cometeram na cara das pessoas, ao longo do tempo, nas autarquias, nas instituições do Estado e no poder central até, a democracia manteve-se firme, viva e activa para se auto-depurar e tentar combater os contaminadores do sistema que, aos poucos, vão caindo nas malhas da Justiça. Ainda estamos longe de sentir e de conviver com os padrões “utópicos” de seriedade, de bem-estar, de tranquilidade e progresso que todos aspiramos naturalmente.
3 - A democracia tem e faz exigências aos seus governantes: Justiça Social, menos pobreza, melhor Educação, melhor Saúde, melhor Justiça. Todas estas necessidades, desenvolvidas e concretizadas num quadro de liberdade individual e de liberdade económica têm que estar apoiadas nos princípios da ética e da moral.
A democracia exige respeito pelo voto em urna. Quem ganha, deve governar. Quem perde fica na oposição e faz oposição. Não aceitável que um perdedor se dependure em estratagemas contabilísticos de somar interesses para tomar o poder como aconteceu em 2015, nos Açores e agora com a tentativa absurda na Madeira, em que um político espezinhado eleitoralmente avançou com uma hipótese ridícula de juntar partidos para retirar do poder o vencedor.
4 - Foi justamente a anormalidade de 2015 que veio gerar e alterar a sensatez e o “sagrado” princípio democrático do “quem ganha governa”. A partir daí, os partidos estão mais interessados nas contas do número de deputados do que respeitar a vontade e a confiança do eleitor. O eleitor democraticamente não tolera este jogo de se querer ganhar na secretaria. O eleitor exige estabilidade política e progresso social e económico. O eleitor exige legislaturas de quatro anos, findos os quais o partido do governo sujeita-se à avaliação de desempenho. O eleitor quer que o governo governe bem e com sucesso e que a oposição fiscalize bem e com vigilância apurada. Agora, a oposição querer governar, não pode ser. É uma afronta e é isto que descredibiliza a democracia e atira o eleitor para a indiferença.
5 - No dia 09 de Junho realizar-se-ão as eleições europeias. Os portugueses vão ser convocados para votarem. Há partidos concorrentes para todos os gostos. É preciso votar. Se mais razões não houvesse, só o facto de devermos muitíssimo à Europa era suficiente para pensarmos seriamente em ir votar. Além de ser um dever cívico, é um dever de gratidão por quem nos tem ajudado a mudar o país e a promover um futuro melhor para nós e para as próximas gerações.