Nesta fase em que me despeço de alunos que acompanhei ao longo de dois ou três anos e penso nas transformações mútuas sentidas por interações em aulas, espaço escolar ou outras atividades, voltei à FADEUP para assistir às provas de agregação de um colega com quem partilhei anos de percurso universitário e que ficou amigo para a vida.
As provas constaram de apreciação curricular, onde o júri avalia o que o “trouxe” até ao momento presente e em que este defende as suas opções numa lição sobre aquilo em que “acredita”. No caso em apreço, a lição foi “Do desporto para a vida dos jovens: uma proposta para a intervenção sustentada no Modelo de Responsabilidade Pessoal e Social”.
Livros* que tenho folheado ultimamente, têm títulos que podem ser enquadrados nestas temáticas, pois percebemos que “O professor faz a diferença”* para que muitos alunos não levem “Mágoas da Escola”*. E muitas vezes, estes, são os que incorrem em situações de índole disciplinar que originam suspensões de frequência do estabelecimento, as quais, raramente contribuem para a alteração da sua postura ou melhoria das aprendizagens.
Nesta aula, o colega em apreço abordou o modelo que segue na procura do desenvolvimento positivo destes (e de outros) jovens, baseando-se em caraterísticas psicológicas, comportamentais e sociais, conhecidas como os 5 C’s, a saber: Competência; Confiança; Conexão; Caráter; Cuidado. É seu entendimento que quando conseguidos podem originar um sexto: Contribuição - dada através de práticas positivas para a diminuição dos comportamentos de risco. A ideia chave é: todos os jovens têm potencial positivo em determinadas áreas, devendo-se, pois, apostar no seu desenvolvimento global, a partir das mesmas.
Alguns destes modelos têm sido aplicados no âmbito do desporto e da atividade física, procurando aproveitar o facto de muitas destas crianças e jovens terem aí um espaço de sucesso pessoal. Qualquer desporto tem regras. Se eles têm sucesso, objetivamente é porque as cumprem. No desporto, há vitórias e derrotas, trabalho em equipa, esforço e sofrimento, lideranças e árbitros a respeitar. Porque não, então, transferir para a sala de aula esta panóplia de comportamentos treináveis, transformando-os em valências oportunas para a postura e aprendizagem em espaços onde há matérias, também importantes, mas menos apelativas.
Nós, professores, que nos queixamos sistematicamente da falta de postura dos alunos, o que queremos mesmo, são estes níveis de responsabilidade social que o desporto exige. Vamos então treiná-los e usá-los para benefício comum. Como? Alterando também as nossas estratégias de intervenção e percebendo que ser professor não pode ser apenas, e só, debitar conteúdos para autómatos que os vão assimilar ao ritmo que alguns fazedores de programas, que nunca lidaram com uma turma de alunos, entendem como desejável.
Passemos, pois, dos pensamentos e das palavras, aos atos. Ao AMIGO e candidato aprovado - Nuno Corte Real - agradeço mais esta enorme lição de (e para) a vida.