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A pé ou de bicicleta?

Quando o tempo urge e é preciso concretizar com oportunidade, é sempre melhor ir de bicicleta do que ir a pé ou ficar na conversa a ver se os problemas se resolvem sozinhos. Não foi a primeira vez que um governante decidiu deslocar-se assim enquanto a oposição protestava que o ritmo estava a ser intenso e que não tinha pernas para tanto. E também não foi a primeira vez que um governante preferiu dizer o que ia fazer de uma forma sistematizada para que as mensagens que pretendia fazer passar chegassem, da forma como queria, à comunicação social e aos cidadãos. Vem isto a propósito da resposta que Pedro Nuno Santos deu a Luís Montenegro por este achar que estava a passar a perna à oposição, no sentido de que o Governo tem estado a decidir enquanto outros discutem.

Desafiar pode ser um convite, um incentivo – não digo que tivesse sido uma coisa ou outra –, mas o líder socialista levou a mal, achou que não, que lhe estavam a chamar de incompetente. Quem não tem pedalada, é verdade, não tem possibilidades de ganhar. Por isso, ripostou, dizendo que não aprecia quem pedala desajeitadamente, sem reflectir o suficiente nos movimentos e na pressão que as pernas devem fazer nos pedais, sem cuidar da forma estética com que um ciclista da política se deve apresentar e sem aprimorar a táctica que o mesmo vai utilizar durante a prova. Pedro Nuno até pode vir a ter alguma razão, mas a sua perspectiva da corrida não faz dele, nem agora nem no futuro, um grande ciclista, para continuar com a mesma analogia.

Na verdade, em vez de encaixar inteligentemente o desafio e apostar tudo no resultado, colocou-se na posição de um treinador de bancada ou de um simples espectador que comenta com o amigo ou o vizinho que vai com ele assistir à passagem da caravana que o líder do pelotão está a seguir a táctica de um rival que correra por outra equipa na prova anterior. Mantendo a terminologia, pode dizer-se que o actual Governo, logo no início da prova, se deixou ultrapassar em várias matérias, por culpa própria, por não aceitar formar uma equipa mais alargada. Montenegro continua com essa mesma relutância, mas Pedro Nuno acusa-o de estar a apresentar powerPoint atrás de powerPoint que, na interpretação do primeiro, significa fazer muito e depressa. Evidentemente, como a prova é longa, é bem provável que, mais à frente, a equipa, que agora não é maioritária no pelotão, perca fôlego e fraqueje. Mas, para já, é Pedro Nuno que tem vindo a perder lucidez e não está a ver bem a realidade. O Governo tem andado a repisar os passos do Executivo de Costa. Que Governo foi tão pródigo em apresentações de power-point como o anterior? E quanto às medidas erradas de que Pedro Nuno acusa o actual Governo, não são quase a cópia, por exemplo na área da saúde, das anunciadas por Temido e Pizarro?

Ainda é cedo para sentir a diferença, se é que ela existe. A diferença poderá estar só na execução, coisa que ainda não deu para perceber. Está-se ainda na fase dos diapositivos. O tempo o dirá. Para já, fica até mal a Pedro Nuno criticar o que Montenegro tem levado a cabo, ainda que seja pouco, embora haja sérias dúvidas de que este venha a ter sucesso, a não ser que consiga uma boa pedaleira. É que sem ela a bicicleta não anda e sem resultados os anúncios de que se é melhor valem zero a prazo. Falta motivar todos os implicados, o que não é pouco. Numa prova como a que está a realizar-se são muitas as especialidades a envolver. O “caminho [pode estar] errado” se a descolagem do pelotão não for calculada e se for descurado o futuro. Para já, percebe-se isso, os Portugueses não podem ficar à espera, na beira da estrada, sem terem nada para ver, ainda que os dorsais dos que possam trazer-lhes as novidades sejam privados. Mas, depois, vão perguntar por outras soluções, quiçá mais económicas e coerentes, isto se, entretanto, a prova não for interrompida por falta de adesão aos que lideram ou por teimosia destes.

Luís Martins

Luís Martins

4 junho 2024