Terminou ontem, com a Peregrinação ao Sameiro, o 5.º Congresso Eucarístico Nacional, subordinado ao tema Partilhar o pão, alimentar a esperança. “Reconheceram-no ao partir o pão” (Lc 24, 35). Cerca de 150 mil pessoas participaram na eucaristia de encerramento presidida pelo enviado especial do Papa Francisco a este Congresso, o Prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, Cardeal José Tolentino de Mendonça. Foi um verdadeiro mar de gente que, a partir do monte Sameiro, de onde se pode ver o mar, mergulhou, pela mão da Mãe, na imensidão dos dons da Eucaristia, escutando a Palavra, partindo o Pão e sendo enviado em missão. Neste momento e neste espaço, tornou-se ainda mais vigorosa e confiante a nossa oração: “Bendito e louvado seja o Santíssimo Sacramento da Eucaristia, fruto do ventre sagrado da Virgem Puríssima, Santa Maria”.
Do vasto e rico programa deste Congresso, em que participaram cerca de 1500 pessoas, destaco as conferências que desenvolveram o tema: Partilhar o pão: Eucaristia e fraternidade, pelo Presidente do Comité Pontifício para os Congressos Eucarísticos Internacionais, Padre Conrado Maggioni, na manhã do dia 31 de maio, festa litúrgica da Visitação de Nossa Senhora; Reconheceram-no ao partir o pão (Lc 24, 35), pela Professora Doutora Luísa Almendra, na tarde desse mesmo dia1; Alimentar a esperança, pelo Padre Carlos Carneiro, na manhã do dia 1 de junho. Sendo o Dia Mundial da Criança e tendo em conta que, por estes dias, são muitas as crianças que comungam, também este facto nos ajudará a alimentar a esperança. E mais ajudaria se a Primeira Comunhão fosse, como a expressão indica, a primeira de muitas e regulares comunhões.
O programa do Congresso incluiu ainda sete workshops ligados, de forma mais ou menos direta, com a Eucaristia: Hospitalidade, Jovens (JMJ) e Eucaristia, Família, Pobres, Ecologia, Espiritualidade eucarística, Confrarias do Santíssimo Sacramento. Contou ainda com diversos painéis e com alguns momentos de oração2; com a recitação do Terço e Festa Mariana, na Avenida Central, a encerrar o Mês de Maria; e ainda com um fantástico concerto, na Sé Catedral, na noite de sábado, em que foram executados uma Cantata Eucarística e o Hino do Congresso. A arte, a cultura, a espiritualidade e a festa deram as mãos para nos lembrar que a Eucaristia é tudo isso. Mediante a arquitetura (Igrejas e capelas), a pintura (quadros que ilustram os mistérios celebrados), a escultura (imagens de homens e mulheres que viveram santamente), a música (muitas das mais belas músicas foram compostas para a celebração da Eucaristia ou para a adoração eucarística) e a literatura (são inúmeros e belos os textos em prosa ou as poesias que nasceram da Eucaristia e para a Eucaristia), saem reforçadas as dimensões espiritual e festiva da Eucaristia. Não participar nela traduz-se num empobrecimento espiritual e num défice cultural de alcance e proporções inimagináveis.
Aconteceu este Congresso na celebração do centenário do Primeiro Congresso Eucarístico Nacional (2 a 6 de junho de 1924), promovido pela Arquidiocese de Braga e que teve como dinamizador o Padre Abílio Gomes Correia3, apelidado de “Apóstolo da Eucaristia”, “Cura d’Ars4 português” e “confidente do sacrário”. Tendo participado, em Roma, no Congresso Eucarístico Internacional de 1922, acompanhando o Arcebispo D. Manuel Vieira de Matos, o Padre Abílio promoveu, em 1923, um Congresso Eucarístico Diocesano e, no ano seguinte, um Congresso Eucarístico Nacional. A partir daí, houve mais três Congressos de expressão nacional: o segundo, em 1974; o terceiro, em 1999; e o quarto, em 2016. Este aconteceu em Fátima, mas todos os outros tiveram lugar em Braga.
Passado o Congresso, é tempo de felicitar todos aqueles que lhe deram corpo e forma: os que o organizaram e promoveram, os que nele participaram, os que rezaram pelo seu bom êxito e quantos o acompanharam, com interesse, pela comunicação social e pelas redes sociais. É tempo também de assumir compromissos e de “dar um passo em frente”, como referiu o Papa Francisco, na mensagem que, a propósito, dirigiu à Igreja em Portugal. Há muito a fazer e o tempo urge...
Na expectativa de ver beatificado e canonizado o Padre Abílio Gomes Correia, termino citando uma das suas mais emblemáticas afirmações: “Não há Céu fora da Santíssima Eucaristia e há tanto mais Céu, quanto mais Eucaristia”.
1 É sugestivo que tenha sido também na tarde do dia em que Jesus ressuscitou que os discípulos de Emaús reconheceram o Senhor na fração do pão, como nos dá conta o texto de Emaús (Lc 24, 13-35), nessa conferência trabalhado.
2 De referir que, além da oração coletiva, houve também a oração individual, pois, em boa hora, a organização do Congresso decidiu disponibilizar a possibilidade da Adoração ao Santíssimo Sacramento, num espaço para o efeito preparado.
3 Ordenado sacerdote a 24 de setembro de 1904, o Padre Abílio começou por auxiliar na sua paróquia de Padim da Graça e por ser capelão da Irmandade do Senhor dos Passos de Cabreiros. No dia 21 de julho de 1907, foi nomeado pároco de S. Mamede d’Este. Aí faleceu, no dia 29 de junho de 1967, e aí está sepultado, entre odores de santidade e das flores que os paroquianos de S. Mamede e inúmeras pessoas anónimas lhe devotam, em jeito de gratidão. Tendo sido já declarado Servo de Deus, o processo da sua beatificação está em curso.
4 A expressão remete para S. João Maria Vianney (1786-1859), o Cura d’Ars, grande apóstolo da Eucaristia e da Reconciliação, no sul de França.