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Eleições europeias: um balanço, previsível, dos números

 



 



 

Faltam dez dias para as eleições europeias. Tradicionalmente afetadas por muita abstenção, agora com as maiores facilidades propiciadas para o exercício do direito de voto (possível em qualquer mesa eleitoral ou na modalidade de voto antecipado) porventura os números da participação eleitoral poderão vir a revelar-se mais expressivos em Portugal. Por mim, desta vez, por comodidade e conveniência pessoal, também serei um dos eleitores a recorrer à modalidade de voto antecipado. 

Habitualmente, estas eleições – referentes à nossa participação, à nossa relação na Europa – servem para o eleitorado, sinalizando descontentamentos vários, castigar os partidos com responsabilidades governamentais no momento.

Todavia, atenta a grande proximidade com as últimas eleições legislativas, ocorridas dois meses antes, desta vez o governo terá menos a temer por via do descontentamento instalado. Aliás, constatando-se que o governo da AD, agora em funções, tem vindo a desatar alguns dos nós deixados pela governação socialista de António Costa (a questão dos professores, por exemplo), enquanto avança ou sinaliza medidas de alteração ou rutura com a praxis anterior (IRS, saúde, habitação e também na imigração), a conjuntura até se mostrará favorável para quem está a exercer o poder. 

Porque, no essencial, nos dois meses entretanto decorridos, o governo tem podido dar boas notícias aos portugueses, os eleitores não descortinarão razões firmes para fustigar a ação governativa. Por agora, o governo de Montenegro desafia a lógica proposta por Maquiavel (O Príncipe, 1527) para o curso da ação governativa. Ou seja, ao invés de despejar as más notícias na primeira fase da governação e deixar para uma fase mais próxima de novas eleições legislativas as propostas mais amigáveis para o eleitor, o governo de Montenegro tem mostrado afã em revitalizar o país com tons mais otimistas, afastando quaisquer nuvens mais negras num tempo próximo. 

Sendo certo que por cá, contrariamente ao usual, esta campanha eleitoral tem estacionado numa maior profusão de temas europeus (imigração, guerra na Ucrânia e outros), assim mesmo, será inevitável algum contágio entre a política interna (a ação governativa e o rebate oposicionista à mesma) e os assuntos europeus ora em debate. 

Não obstante o PS tenha apostado numa cabeça de lista tida por popular no eleitorado (Marta Temido, ex-ministra da Saúde ao tempo da pandemia, período em que granjeou a catalogação de bom desempenho por parte da comunicação social), o jovem cabeça de lista da AD, Sebastião Bugalho, beneficia da cobertura de retaguarda de um governo que, reitero, tem no essencial espalhado boas notícias. Assim, um mau resultado da AD bem que poderá ser imputável ao seu cabeça de lista, que precocemente aceitou um lugar central na arena eleitoral.

É um juízo comum sustentar-se que “as sondagens valem o que valem”, atentas as previsões enviesadas que as mesmas têm libertado com alguma recorrência. Ao nível europeu, recentes estudos de opinião preveem um crescimento de partidos populistas, decorrente do descontentamento do eleitor com a sua bolsa, com a insegurança, a arrastada guerra na Ucrânia ou a imigração.

Por cá, depois de ver o seu score insuflado nas últimas eleições legislativas, ao CHEGA será difícil aumentar agora a percentagem obtida nesse ato eleitoral (sendo que as sondagens indicam mesmo uma descida). E porque algumas das bandeiras do CHEGA, designadamente o alegado desregramento ou descontrolo na imigração, são, entretanto, alvo de preocupação por parte do atual executivo, e ainda pelas limitações evidenciadas pelo seu cabeça de lista, Tânger Correia, também por aí se torna mais difícil a este partido prolongar a ascensão eleitoral.

Portugal, que abraça o mar e onde a Europa acaba. A Europa, “o último império que abraçamos”, é o nosso destino maior desde há quase quarenta anos. Hoje, para lá de Portugal, somos Europa. Deixo-lhe o repto, estimado leitor, vote, contribua para definir democraticamente a nossa Europa!

* Doutorado em História Contemporânea pela Universidade de Coimbra

Amadeu J. C. Sousa

Amadeu J. C. Sousa

31 maio 2024