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Regenerar os partidos políticos

Ninguém duvida que os partidos políticos são necessários à vida democrática; mas, para que cumpram tal desiderato, devem ser instrumentos privilegiados de participação e empenhamento na democracia representativa. 

Ora, para que da sua ação se retire o desejado e necessário objetivo de promoção e abrangência social, eles devem abrir-se à sociedade civil e lançar as bases de uma militância forte e decidida; e daqui resultará maior confiança, entendimento e credibilidade entre a sua base eleitoral e eles próprios de que resulta, obviamente, a sua legitimidade efetiva e natural envolvência. 

No nosso país a militância ativa nunca foi significativa, a não ser em partidos cuja ideologia é absorvente e categórica; porém, em partidos mais abertos à sociedade e menos doutrinários, a militância sobre fraturas e flutuações constantes que se refletem nas opções eleitorais dos votantes é demasiado fluída.

Se nos entregarmos a uma análise séria e fria desta evidência, facilmente constatamos que a credibilidade e o envolvimento no trabalho político da maioria dos partidos têm diminuído; e daqui resulta a desmotivação e desilusão da sua ação junto dos eleitores, seja no que à parte económica diz respeito, seja no alcance das reformas sociais, com claro afastamento e esmorecimento da vida democrática.

Pois bem, as eleições restritas, que raramente eleições são, dentro dos partidos para a escolha dos seus membros dirigentes, candidatos a órgãos nacionais e demais representantes, a meu ver, afasta e quebra a militância, uma vez que promove a seleção e escolha, nem sempre dos melhores, de elites pouco militantes; todavia, as eleições diretas com participação de todos os militantes e, até, de simpatizantes e potenciais eleitores que o desejassem, são, sem dúvida, a forma mais democrática, ativa e participativa de selecionar mais livremente e eficazmente os elementos mais capazes. 

Daqui resulta que os partidos devem selecionar os seus representantes e dirigentes mais qualificados e mais envolventes na vida coletiva o que passa por serem sujeitos a um escrutínio direto e sério; e, assim, deve estar implícito o maior grau de qualidade cívica e de participação política que garantam melhor ação e dinâmica dos partidos e a necessidade de se abrirem e fortalecerem o seu trabalho junto das populações, em vez de lhes virarem as costas. 

Do que vemos e concluímos, os nossos partidos políticos não possuem qualquer escrutínio ético e formativo dos seus candidatos aos cargos públicos; e isto, claramente, leva a que os eleitores sintam repulsa e desmotivação por estes eleitos que, agem muitas vezes mais voltados para ambições pessoais e políticas do que para as necessidades e carências dos seus eleitores. 

Pois é, depois admiram-se da falta de confiança dos cidadãos na política e nos políticos; e, sobretudo, que esta desmotivação e alheamento façam crescer cada vez mais os populismos eivados de demagogia e de radicalismo que enfraquecem e desgastam a democracia. 

Claro que tudo isto acaba por se refletir na falta de vitalidade e operacionalidade das instituições que devem servir e promover o bem-estar social, bem como os direitos humanos fundamentais; e, assim, corremos o risco de, depressa, ficarmos a um passo do aparecimento e implementação do despotismo, do populismo e da ditadura. 

Então até de hoje a oito.

Dinis Salgado

Dinis Salgado

8 maio 2024