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Maria, Mãe de Jesus, Mãe de todos os homens

O mês que estamos a viver sempre nos fala e nos faz reflectir sobre muitos assuntos de intimidade, porque a Mãe de Jesus e nossa Mãe, Maria Santíssima, essa simples rapariga de Nazaré, foi escolhida pelo seu Filho, na Cruz, para assumir a maternidade de todo o homem. E, se nos inquirirmos sobre este gesto de Cristo, compreendemos que da sua parte há um desejo veemente de se tornar mais íntimo de todos os homens, ao proporcionar-lhes a sua progenitora como Mãe comum de todos os seus congéneres.

Como alguém pensava, Jesus quis deixar de ser filho único de Maria, exactamente para que todo o ser humano se sinta unido a Si pelo laço mais familiar e emotivo que podemos imaginar: ser filho da mesma Mãe, ou, por outras palavras, ser amado pela Mãe da mesma forma com que tanto amou Jesus, O educou e O acompanhou durante toda a sua passagem pela terra, embora, curiosamente, aparecendo sempre discretamente, durante a sua chamada “vida pública”. Mas não deixou de se deslocar até ao lugar do sofrimento e de escarnecimento mais duro da existência terrena de Jesus, que foi o Calvário. Aí se apresenta, seguramente no meio dum sofrimento violento, ao presenciar toda a injustiça da condenação à morte do seu Filho e, como só uma mãe se lembra desses pormenores, faz-se acompanhar pelo discípulo mais amado de Jesus, João Evangelista. 

Esta presença inesperada significava, para Cristo, uma alegria íntima fortíssima, porque, depois do abandono que sofreu por parte dos companheiros mais íntimos da sua pregação quando é aprisionado (recordemos que um deles, Judas Iscariotes, O traiu, entregando-O por dinheiro que recebeu), verifica que a sua Mãe, sempre carinhosa e oportuna, O consola com aquela visita inesperada dum apóstolo. Pois bem: Jesus, que a conhece melhor do que ninguém, conclui que Maria se faz acompanhar de João para animá-Lo, mostrando-Lhe que nem tudo se consumou ou caiu em derrocada com a sua prisão e a sua condenação à morte na Cruz.

Jesus, como sempre, entende o gesto de sua Mãe e vê, com a presença de João, que houve alguém que venceu o receio de ser um dos seus amigos íntimos e se apresentou diante d’Ele na hora mais violenta e temerosa dos três anos em que o Senhor ensinou, fez milagres espantosos, deixou um rasto doutrinal inesquecível e, brutalmente, foi condenado à morte mais humilhante, entre dois malfeitores, cuja vida não tinha sido nada recomendável. Antes pelo contrário. Recordemos, no entanto, a conversão do bom ladrão.

Do alto da cruz, olha Maria e João. Este merece ser recompensado pela sua valentia e, simultaneamente, por ter assumido a caridade de acompanhar Nossa Senhora naqueles instantes tão árduos e dolorosos. O amor desse discípulo pela sua Mãe só é possível quando, na intimidade do coração, a ama com a mesma qualidade de afecto que um filho tem para quem o trouxe ao mundo. Assim, João merece passar a ser filho de Maria. E esta. porque o acompanhou e talvez o tenha induzido e acalentado a deslocar-se na sua companhia até ao Calvário, certamente que demonstra um amor verdadeiramente maternal. Maria é uma verdadeira mãe em relação a João.

Mas Jesus vai mais longe. Há pouco, confirmando o que ensinara a Pedro sobre a bitola do perdão, que superava as sete vezes pensadas pelo apóstolo, para aumentar até setenta vezes sete, dirigindo-Se ao Pai, gritara: “Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem” (Luc. 23,34). Ele quer, como desejo amoroso, que ninguém seja penalizado por toda a malvadez e infâmia da sua condenação à morte. Pelo contrário, pretende que o seu sofrimento brutal e, sobretudo, injusto, seja um benefício de salvação para todos os homens.

Nesta ordem ideias, olhando Maria e João, vê neste toda a humanidade que é capaz de se arrepender e aceitar as agruras desta vida, que, por vezes, não são nada fáceis de suportar. Este já é filho de Maria. Recorda tudo o que, humanamente, deve ao amor e à educação que lhe proporcionou, de modo simples e generoso, a sua Mãe. Por isso, como se referiu, para que o perdão que solicitou a seu Pai, pelos que O trataram mal, seja extensivo a todos nós, ao pedir à Virgem Santíssima que aceitasse ser Mãe de João, torna-a também Mãe de toda a humanidade. O Evangelho deste discípulo esclarece-nos: “E Jesus, vendo a mãe e, perto dela, o discípulo que amava, diz à mãe: “Mulher, eis o teu filho”. Depois, diz ao discípulo: “Eis a tua mãe!” E, a partir daquele momento, o discípulo levou-a para sua casa” (Jo 19, 26-27).

Pe. Rui Rosas da Silva

Pe. Rui Rosas da Silva

7 maio 2024