Há slogans que não colhem a atenção dos eleitores, ainda mais quando os protagonistas não merecem a confiança do eleitorado e muito menos conseguem a propalada unidade nacional. É uma ilusão enorme pensar que o PSD actual consegue Unir Portugal como se lê num outdoor colocado à entrada da cidade de Braga, bem perto daquele onde se lê Portugal Inteiro. O que se estará a passar nas hostes dos dois ainda maiores partidos portugueses? Será a ideia da bipolarização que está na origem de frases extremadas e sem consistência como essas?
O PSD, mesmo com o reforço de quase nada do CDS-PP e do PPM, está longe de conseguir promover essa hipotética unidade. Uma sondagem publicada há cerca de uma semana contradiz o slogan social democrata. O maior partido da oposição parece sair castigado por essa coligação que tomou o nome que políticos de outra geração – e de outra relevância para o partidos envolvidos e para o país – criaram para potenciar o funcionamento do método de Hondt e a união entre eleitores de várias forças partidárias. Desde essa altura, nada foi tão desigual! O lema de que a união faz a força não se aplica desta vez. Talvez por ser apenas uma união de siglas e nada mais; talvez por os cidadãos acharem que alguns ganharam antecipadamente pontos; enfim, talvez para ser evitado um processo no Tribunal Constitucional por causa da usurpação da marca AD-Aliança Democrática caso o PPM não fosse integrado no acordo tripartido.
Se a iniciativa se constituiu apenas para vencer o partido actualmente no poder é coisa pouca. Ainda mais quando se sabe que o líder socialista está disponível – se assim for necessário para ser primeiro-ministro e se criar uma maioria parlamentar que sustente a sua governação –, para juntar todos à sua esquerda, englobando e unindo o centro-esquerda à extrema-esquerda. A fixação na auto-suficiência da coligação de direita para vencer a esquerda pode vir a transformar-se num pesadelo. Para já, os estudos de opinião tornados públicos têm dito que não é suficiente nem sequer a Coligação+1 de direita para vencer a esquerda por inteiro, apesar de ser admitido esse acrescento de votos e de deputados dos liberais depois da contagem de todos os sufrágios durante a noite de 10 de Março.
É, assim, um erro pretender Unir Portugal sem recursos, sabendo-se que as munições não são substancialmente diferenciadoras, à esquerda e à direita, ao ponto sequer de equilibrar os braços da balança eleitoral. O prurido em assumir o que tem de ser assumido e arrumar o assunto com transparência, desde já, poderá vir a prejudicar uma parte significativa dos eleitores que querem concorrer para uma maioria de direita que os protagonistas que puxam pelo voto útil desprezam por cegueira.
O slogan da união do país perde força, ainda mais, com as questões internas no seio do maior partido da oposição. Dois terços dos deputados social democratas foram mandados às malvas pela actual direcção. E se não há união no próprio partido, como se quer Unir Portugal? É uma ilusão tal pretensão, uma impossibilidade real. E a questão, ainda em brasa, na região autónoma da Madeira, com altos responsáveis do Governo Regional e da Câmara Municipal do Funchal implicados, as declarações políticas proferidas e a resistência de Miguel Albuquerque em largar a hierarquia partidária, não deixam de perturbar os objectivos.
O recente estrondo na Madeira deu para perceber a reiterada incoerência reinante no discurso, incluindo da parte do líder social democrata que não retirou confiança política a Albuquerque durante demasiado tempo, apesar das evidências. Um e outro afirmaram, ainda que de formas diferentes, que António Costa se deveria demitir, ainda que este não fosse arguido, sendo certo que as suspeitas são agora mais graves do que as que recaíam sobre o primeiro-ministro. A verdade é que apenas conseguirá unir quem for confiável e para se ser confiável é preciso ser-se coerente.