Tradicionalmente conhecida como Festa de Nossa Senhora da Purificação, da Luz, das Candeias ou simplesmente Candelária, é liturgicamente a Apresentação do Senhor e celebra-se quarenta dias após o Natal (2 de fevereiro). A mudança de nome aconteceu por altura da reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II, com a preocupação de contribuir para que a fé celebrada se foque no mistério de Jesus (identidade e missão).
Já celebrada em Jerusalém, no século IV, com o título de Festa do Encontro (hypántesis, em grego), estendeu-se a Constantinopla, no ano 534, e posteriormente a Roma, onde incluía uma procissão até à Basílica de Santa Maria Maior, e ao Ocidente. O século X viu surgir o costume de, nesse dia, se benzerem as velas, uma alusão a Jesus como luz que a todos ilumina.
A apresentação do menino no Templo não era exigida pela lei, que apenas prescreve a purificação da mãe: “Quando uma mulher grávida der à luz uma criança do sexo masculino, ficará impura durante sete dias (...). Se der à luz uma filha, ficará impura durante duas semanas (...) e permanecerá durante sessenta e seis dias para se purificar do sangue.
Quando terminar o tempo da sua purificação, para um filho varão ou para uma filha, apresentará ao sacerdote, à entrada da tenda da reunião, um cordeiro de um ano, como holocausto, e uma pomba ou uma rola, como sacrifício pelo pecado. O sacerdote oferecê-los-á ao Senhor, fará o rito da purificação por ela, e será purificada do fluxo do sangue. (...) Se não tiver meios para oferecer um cordeiro, tomará duas rolas ou duas pombas, uma para o holocausto e outra para o sacrifício pelo pecado; o sacerdote fará a expiação por ela e será purificada” (Lv 12, 1-8).
Foi certamente na apresentação de Samuel no Templo (1 Sm 1, 24-28) que Lucas encontrou o motivo literário para a elaboração desta narrativa, onde, ao contrário do que habitualmente acontece, carateriza os personagens com uma notável amplitude. Dada a riqueza do texto, não nos é possível falar dele no seu todo. Tendo em conta que, à apresentação dos personagens, subjaz o intento de os propor como paradigmas, apenas constatamos os modos da sua caraterização e, de seguida, retiramos daí uma conclusão.
De José e Maria, Lucas diz, nas entrelinhas, que eram zelosos cumpridores da Lei do Senhor (vv. 22-24.39a), ao mesmo tempo que refere estarem admirados com o que acerca do menino se dizia (v. 33).
Do Menino, Simeão afirma que é “luz para se revelar às nações e glória de Israel” e, num sumário conclusivo, o narrador acrescenta que “crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria e a graça de Deus estava com Ele” (v. 40).
De Simeão, Lucas informa que “vivia em Jerusalém”, “era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel”. Ao acrescentar que “o Espírito Santo estava nele” (v. 35), sugere ao leitor que as muitas coisas belas e profundas que diz acerca do Menino provêm do Espírito. Com a afirmação “justo e piedoso”, indica que teme a Deus e respeita os mandamentos, coisas que se depreendem do seu cântico (vv. 29-32).
De Ana, diz que era “profetisa, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada e tinha vivido casada durante sete anos após o tempo de donzela, e viúva até aos oitenta e quatro. Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações” (vv. 36-37). Sem referir as suas palavras, acrescenta que “pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém” (v. 38).
Não será difícil deduzir, nas linhas e entrelinhas do texto, o que esta narrativa pretende: exortar os pais para que cumpram as obrigações que a educação integral dos filhos acarreta; recomendar às crianças que cresçam em estatura, sabedoria e graça, isto é, nas dimensões física, cultural e espiritual; recordar aos anciãos, possuidores de uma maior sabedoria alicerçada na experiência da vida, o seu papel na sociedade e nas comunidades cristãs.
Não queremos ser pessimistas nem profetas da desgraça, mas a realidade diz-nos que estamos muito aquém da proposta de Lucas. É necessário, por isso, um maior empenho de todos, no sentido de ajudar aqueles cuja educação nos está confiada a crescer, de forma íntegra, nas dimensões atrás referidas.