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“Indisciplina” ou “inconsciência”?

 

 

 

 

Para quem como eu veio do tempo dos “sinaleiros” nas cidades, impressiona a quantidade de viaturas a circularem nas estradas portuguesas. Assim como o número de acidentes que nelas se verificam, apesar de constatarmos existir um parque-automóvel a evoluir não só em quantidade, como em qualidade. Pois nunca se viram, como hoje, tantas e tão potentes máquinas entregues às garras de quem as conduz, nem sempre com a preparação devida no sentido do cumprimento das mais elementares regras do Código da Estrada (CE).

 Que o digam as forças de segurança, GNR e PSP, sempre que montam uma operação stop, ou fazem uma ronda nas estradas aos excessos e às infrações cometidas pelos automobilistas. Dizem: é um flagelo! Eu diria que é mais uma “rebaldaria” e um “morticínio” nunca vistos. 

Os números são de tal ordem que não resisto em falar deles. Sobretudo quando encaro as imagens, por vezes horrendas, e os números enunciados nos média. Vejamos os dados que retirei de uma notícia do DM que se referia à campanha, “Viajar Sem Pressa”, realizada entre 16 e 23 de janeiro deste ano, em que se verificaram 2.519 acidentes de que resultaram 8 mortos, 41 feridos graves e 707 ligeiros. Tendo sido detetados 14.443 condutores(as) em excesso de velocidade, a causa de um terço de todos os acidentes mortais.

  Já se recuarmos mais um pouco no calendário, só no período compreendido entre o dia 15 de dezembro de 2023 e 02 de janeiro de 2024, segundo o C. Manhã, as forças de segurança registaram 7.072 sinistros de que resultaram 28 mortos, 125 feridos graves e 2.049 ligeiros. Uma festa de Natal e Ano Novo bastante amargas quando se pretendiam doces, com vida, saúde e em paz. Lutos imprevistos, muitos deles evitáveis se as pessoas seguissem as recomendações das autoridades e cumprissem as regras de trânsito. 

Perante isto, fica-se com a ideia de que, apesar dos alertas constantes, os nossos automobilistas viraram autênticos “Kamikazes” aos comandos das viaturas. Como se pilotassem uma espécie de foguetões em direção a Marte onde não há seres humanos, para já, nem trajetos com regras a cumprir. 

Mas a realidade prossegue. Nesse mesmo período foram detetadas, imagine-se, 78.596 infrações; levantados 7.209 autos de contraordenação, de entre os quais 2509 por álcool no sangue; 1.260 detenções devido à taxa ser igual ou superior a 1,2g/l e 45.387 por excesso de velocidade. Juntando-se a estas transgressões: a falta, ou uso indevido, do cinto de segurança; do seguro obrigatório; da inspeção, etc. E pasme-se: só nos últimos 3 anos, segundo a GNR, foram detetados 37.000 condutores(as) sem carta de condução.

 De entre estas alarvidades rodoviárias há, ainda, os casos de: veículos com pneus carecas e falta do suplente; iluminação deficiente ou avaria; ausência de triângulo e colete refletor; etc. A juntar a estas infrações há, ainda, as das ultrapassagens perigosas; violação de linhas contínuas; desrespeito das regras vigentes nas rotundas, do sinal STOP e da prioridade, bem como outras constantes da Lei. 

 Com transgressões até dar com um pau, não admira que vivamos num país onde impera a sinistralidade rodoviária. E uma pergunta se impõe: “indisciplina” ou “inconsciência” de todos daqueles e aquelas que conduzem? Ambas, em minha opinião. Não se perspetivando que a coisa melhore, porquanto as carripanas debitam cada vez mais cavalos e velocidades estonteantes que convidam os aceleras à perigosa adrenalina.

 A ajudar à contenda, temos os condutores(as) de hoje a guiarem os carros de amanhã nas estradas de ontem. Pois para além de parte das autoestradas estarem a ficar estreitas, temos algumas do tempo da outra senhora, mal conservadas e perigosas. Em que nelas, por vezes, se verifica: traçados mal pensados e esburacados e sem raides de proteção; sinalização confusa, ou falta de dela; passadeiras pouco percetíveis e ausência e passeios para peões. Enfim, pouco investimento, ao longo dos anos, por parte da tutela. 

 

Narciso Mendes

Narciso Mendes

29 janeiro 2024