twitter

O Jornalismo e a Saúde

As últimas semanas têm sido ricas em notícias sobre o papel daqueles cuja missão passa por nos trazer… notícias.

O jornalismo vive dias difíceis, num preocupante prenúncio sobre o estado de saúde da nossa democracia.

Vivemos na designada “sociedade da informação”, pela panóplia de fontes de informações disponíveis, mas sem que tal signifique que o acesso à informação se tenha tornado plenamente democrático.

A situação, mais do que meramente conjuntural e circunscrita a tópicos de resolução pontuais, afigura-se absolutamente estrutural.

Para o justificar, podemos apontar para o declínio nas receitas publicitárias nos meios de comunicação tradicionais, para os modelos de gestão e concentração da respetiva propriedade ou, ainda, para as necessidades decorrentes dos constantes desafios tecnológicos.

Como é sabido, estes desafios, ainda mais se combinados, como parece ser o caso, acarretam impactos negativos na capacidade do jornalismo em desempenhar o seu relevante papel na sociedade, colocando em risco a qualidade da informação disponível e, consequentemente, a saúde da democracia.

Na prática, todos contribuem para a razão derradeira, aquela de cuja ausência decorrem todas as consequências, ou seja, a saúde financeira. Sem saúde financeira, para além da evidente insustentabilidade dos órgãos de comunicação, não haverá também o necessário investimento, o que, naturalmente, se repercutirá na qualidade e quantidade do trabalho jornalístico.

Há potencial não aproveitado, muitas vezes capturado por interesses menos óbvios e claros, que impedem uma aposta adequada na formação e na especialização destes profissionais, bem assim como na sua valorização.

O jornalismo especializado, particularmente na área da saúde, desempenha um papel crucial.

Em virtude da sua complexidade, dadas as nuances técnicas e científicas, bem assim como a constante evolução, é ainda exigida ética, precisão e credibilidade na forma como são abordados os temas e transmitidas as informações aos leitores.

Informações essas que carecem de tratamento adequado, pela correta contextualização e filtragem, para que possam ser devidamente compreendidas e assimiladas pelo grande público.

Por esta via, acrescentando os filtros necessários que distingam as informações falsas, especulativas ou desadequadas daquelas que, efetivamente, garantem informação verdadeira e fiável, o jornalista especializado constitui uma mais-valia inestimável em todo o processo formativo, informativo e pedagógico dos destinatários das suas publicações.

Nesse sentido, porque são poucos e cada vez em menor número, numa relação inversamente proporcional à necessidade dos leitores e à importância da informação, importa pugnar por uma aposta contínua e de longo prazo, que vise a formação de profissionais cada vez mais especialistas, em detrimento dos generalistas, capazes de contribuir positivamente e de forma efetiva para a promoção da saúde das populações.

Mário Peixoto

Mário Peixoto

27 janeiro 2024