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Ao correr do pensamento

Nestes dias tenho ouvido muitas promessas por parte dos políticos das várias forças concorrentes às eleições legislativas de 10 de Março próximo. Cada qual as faz de acordo com a sua ideologia e/ou intenção de captar o voto dos eleitores. Juram mundos e fundos; acho que eles não têm, ou fingem não ter, fundos suficientes para pôr na prática o que lhes sai da boca.

Daí que muitas vezes, antes de sentados nas cadeiras do poder, prometam com uma das mãos; e que, uma vez nelas sentados, para cumprir essas promessas, venham, com a outra mão, a tirar ao cidadão comum os fundos necessários para cumprirem o prometido. E, com um ar de “fariseus”, passam ao lado dos “humildes publicanos”.

Que dizer da aprovação por unanimidade, no último dia do plenário da Assembleia da República antes da dissolução, a 15 de Janeiro [2024] de um aumento para os deputados? Esta notícia foi-me dada na altura por pessoa conhecida. E “confirmada” pelo “CARTOON DM” do dia 20 Jan: «(…) Aprovaram as Ajudas de Custo Alargadas (…)» 

O pensamento voa-me agora por diversos tipos de juramentos entre si muito diferentes. Na minha adolescência e juventude fui escuteiro do C. N. E. Depois do devido período de adaptação veio a altura da Promessa: «Prometo, pela minha honra e com a Graça de Deus, fazer todos os possíveis por [o negrito é de minha autoria]: 1- Cumprir os meus deveres para com Deus, a Igreja e a Pátria [idem]. 2- Auxiliar o meu semelhante em todas as circunstâncias. 3- Obedecer à lei do escuta».

E outros tipos de juramento são do meu conhecimento. Muito concreto e do tempo de libertinagem e indisciplina após a Revolução do 25 de Abril, aquele(s) Juramento(s) de Bandeira, no culminar da “Recruta”, feitos com o punho erguido e de cabelos guedelhudos. Por tabela, registo aqui a fórmula humorística do juramento de bandeira que já corria no meu tempo (1967): «Juro e jurarei que à manja e ao pré não faltarei!». Em Angola, onde cumpri uma comissão de serviço, corria que quando um nativo afirmava “Eu jura mesmo”, por vezes se lhe contrapunha: “Mas juras sangue de Cristo ou sangue de pacaça?” [a primeira alternativa se era verdade; a segunda se era falso. “Pacaça” é uma espécie de boi selvagem]. 

 Faz mais ou menos parte da minha rotina consultar o Diário de Coimbra online. No dia 20 de Janeiro, deparei-me com um título que deixa abismada, perplexa, qualquer pessoa com um mínimo de sentimentos. 

«Julgada por abandonar o pai à sua sorte e ficar-lhe com o dinheiro da pensão 

Se não fossem os vizinhos a ajudar com comida, num primeiro momento, e a avisar as autoridades, num segundo momento, o homem que hoje tem 90 anos teria morrido à fome, deixado à sua... Ler mais…». Deste “Ler mais”, e dada a sua extensão, apenas transcrevo o parágrafo final.

«Paralelamente, a arguida tinha acesso à conta bancária do pai onde este recebia cerca de 710 euros mensais de pensão, dinheiro que fez seu, num valor que ronda os 30 mil euros. Além de não o apoiar – apesar de morar no mesmo concelho e de não ter atividade profissional – também lhe ficava com o dinheiro que este recebia». 

 A introdução e este parágrafo final serão suficientes para dar uma ideia da situação. Será uma versão moderna, no século XXI, da tradicional lenda ou mito. Agora, em vez de “o monte onde o velho pai é abandonado”, temos “a casa de habitação”; e, em vez de “a manta para se cobrir até que o seu fim chegue”, “o homem que hoje tem 90 anos” tem/tinha a roupa sem sair de casa. 

Duas notas finais: 1.ª) De permeio, entre o título e a introdução acima transcrita, realce para um painel azulejar colorido, entre outros, no primeiro andar do Palácio da Justiça, no claustro interior ajardinado, onde se lê «AD AVGVSTA PER ANGUSTA». “Ao mais alto através do mais custoso ou mais difícil”. Ou: “Não se alcança o triunfo sem as agruras do combate” [Infopédia]. 2ª) De um tio paterno, falecido nos alvores da Revolução do 25 de Abril, guardo ainda na memória o que ele contrapôs a uma qualquer referência minha sobre “Palácio da Justiça”. Disse-me então: “Palácio da Justiça, não; Palácio da Injustiça”. Era pessoa que havia frequentado a “Escola da Vida, em desfavor da vida da Escola”.

Bernardino Luís Costa

Bernardino Luís Costa

25 janeiro 2024