Na maioria das vezes, insistimos, tanto nos planos local como nacional, em olhar para o hoje, ou para o amanhã mais imediato, deixando de fora uma visão de mais longo prazo, estratégica, quase modular, capaz de nos conduzir à obtenção de resultados mais maduros, sólidos, sem disrupção, nem ruptura social.
Atentemos em Braga, cidade de profunda herança histórica, patrimonial e cultural, como modelo de reflexão, face ao desafio que enfrenta de, sem perder a sua identidade, as suas identidades, ser capaz de se moldar, de se abrir a um futuro sustentável e inovador.
A "Braga que temos" já é um mosaico de tradição e modernidade, mas hoje importa olhar para a "Braga que queremos" tendo como horizonte uma visão mais “à la longue”, uma visão mais prospectiva, uma visão de desenvolvimento que vá para além da próxima década, uma visão capaz de casar tradição e progresso, património e inovação.
Na Educação, motor maior de desenvolvimento humano e social e garante, garante primeiro da igualdade de oportunidades, temos de ambicionar um projecto universal, inclusivo e de qualidade. A assumpção, pelo Município, de um Programa para a Construção de uma Rede de Creches, distribuídas por todo o Concelho e capaz de assegurar cuidados e educação infantil de qualidade é essencial, na medida que promoverá um equilíbrio entre vida profissional/familiar e garantirá melhores condições de emancipação para as jovens famílias. Temos hoje, em Braga, mais de 3000 crianças em listas de espera para Creches, com o prejuízo e a exasperação que isso provoca em milhares de jovens casais. Por tudo isto e, também, porque a Educação nos anos mais precoces é fundamental para melhores resultados de ensino aprendizagem ao longo da vida, este investimento, esta opção, é central e urgente.
Em termos de Habitação, é imperioso pensarmos um grande projecto de Habitação “a custos controlados” e/ou “renda acessível”, dirigido a jovens até aos 35 anos, olhando a Habitação como garante indispensável de qualquer projecto de emancipação jovem e privilegiando no mesmo, como não poderia deixar de ser, uma assinatura sustentável, acessível e inclusiva. Ao mesmo tempo que, com a revisão do PDM, devemos abrir novos espaços para construção de Habitação, em particular nas Freguesias mais fora do anel urbano, onde desde há muito falta nova habitação, o que, para além de contribuir para preços cada vez mais absurdos no dito centro da cidade, empurra, ao mesmo tempo, jovens para fora das suas terras, privando-os, muitas vezes, do apoio fundamental dos seus Pais durante a infância dos seus filhos.
Também a Mobilidade carece de uma revolução, em favor de transportes públicos de qualidade, verdes e eficientes, capazes de apresentar frequência e de cumprir horários, única forma de suscitarem verdadeiro interesse, ao mesmo tempo que se reflecte a sério sobre quais os modos de mobilidade suave e alternativos que devemos integrar. Só com vias dedicadas para os transportes públicos, a par de uma rede estruturada de ciclovias, será possível reduzir a dependência do automóvel, melhorando a qualidade do ar e incentivando um estilo de vida mais activo e saudável.
Os Espaços Verdes, essenciais para o bem-estar, têm de ser integrados no planeamento urbano. Parques verdes, jardins, praças arborizadas não são apenas espaços de lazer, mas também instrumentos relevantes na luta contra as alterações climáticas, na defesa da qualidade do ar, na garantia de espaços com maior ensombramento nas cidades, fundamental para a descida geral da temperatura.
Braga tem, também, de ter um Plano Muncipal para a Arborização e não ir cortando ou plantando árvores mais ou menos a olho, sem nenhum critério.
Também a Cultura, tem de passar a ser encarada como um pilar essencial, representando não apenas a nossa história, mas, sobretudo, o nosso futuro.
Incentivar a arte e a expressão culturais, apoiar eventos e instituições do sector, promover uma atitude de defesa do belo (no espaço público, por exemplo), de respeito, de tolerância, de afirmação de uma ideia de valor que se afirma pela multiplicidade de expressões artísticas, é fundamental para enriquecermos a vida social e o diálogo intercultural.
A cultura é a alma de uma cidade, de um país e Braga pode, deve e tem, no plano nacional, de ser um dos palcos maiores para a criatividade e inovação artística.
A Braga que queremos ter, a Braga que queremos ser em 2040 não se pode adiar.