Numa das suas múltiplas viagens, estava São João Paulo II recolhido em oração quando se desencadeia mais um conflito armado no mundo.
Vendo aproximar-se o seu secretário particular, pergunta-lhe se o assunto é grave. Ante a resposta gestualmente afirmativa, o Santo Padre declina qualquer conversa: «Tenho de rezar ainda mais».
Noutra altura, em pleno Vaticano, o mesmo Pontífice tem encontro marcado com o Presidente de uma grande potência mundial.
Quando este chegou, foram informar o Papa, que estava na capela, a rezar: «Irei depois de terminar o encontro com Deus, que é mais importante».
Muitos séculos antes, foi o célebre Carlos Magno a intimar um Bispo a comparecer na residência imperial.
Enquanto aguardava, o Prelado, chamado Ludgero, entrou em oração.
Quando estava disponível, o Imperador mandou dizer – por três vezes – que estava à sua espera.
Só que – igualmente por três vezes – o Bispo respondeu que iria assim que terminasse a sua oração.
Quando finalmente se dirigiu para a audiência, recebeu uma «imperial» advertência: «Bispo, não é correcto da vossa parte fazer-me esperar desta maneira».
Réplica imediata de Ludgero: «Príncipe, não está Deus infinitamente acima de tudo, inclusive acima de vossa Majestade?» Consta que Carlos Magno emudeceu.
É desta coerência – adornada por semelhante coragem («parrhesía») – que nós temos absoluta necessidade.
Já notamos como, muitas vezes, invertemos as decisões? Procrastinamos, abreviamos ou até suspendemos o encontro com Deus por causa das nossas actividades pessoais. Afinal, quem é prioritário?
São muitos os que alegam não ter tempo para a oração por causa da sobrecarga da missão.
Como se não fosse o encontro com Deus o maior estímulo para o encontro com os irmãos, sobretudo com os mais desvalidos.
Caso para recordar a audaciosa pergunta que Teresa de Calcutá fez a um Cardeal: «Quantas horas reza Vossa Eminência por dia?»
Completamente desconcertado, o purpurado balbuciou: «Madre, de si, eu esperava um apelo a que me envolvesse mais com os pobres. Porque me pergunta quantas horas rezo por dia?»
Foi então que a «santa das sarjetas», entrelaçando as suas nas mãos do Cardeal, o deixou sem qualquer reacção.
«Eminência, sem Deus, somos demasiado pobres para ajudar os pobres. Eu sou apenas uma pobre mulher que reza. Ao orar, Deus coloca o Seu Amor no meu coração e é assim que eu posso amar os pobres: rezando!»
Na própria oração, é preciso deixar a iniciativa a Deus. Pois é o Seu Espírito que reza em nós (cf. Rom 8, 26).
Até sobre Deus – e com Deus – ainda somos muito palavrosos, ainda escutamos pouco. É tempo de investir, a par do «exercício físico», em prolongados – e humanizantes – «exercícios espirituais»!