O frio é o flagelo de toda a gente mas principalmente dos velhos. É vê-los na procura da réstia do sol que escapa pelo intervalo dos prédios altos, ou então, cheios de roupa de andrajos em camadas de cebola por descascar. O frio, para além do desconforto que causa, é também um perigo para a saúde dos mais velhos: os médicos recomendam aos idosos que se resguardem destes dias de inverno com temperaturas baixas. Por algum motivo o fazem. Por isso, têm razão os partidos políticos que chamam a atenção para a carestia da eletricidade. Esta é, como sabemos, a fonte de calor quase única nas casas que, por mal construídas, não tapam a aragem gélida. Em vez de barreiras são peneiras. O BE reivindica uma tarifa baixa para os consumidores de eletricidade principalmente para os mais pobres; não só aplaudimos a ideia como a reforçaríamos dizendo que deveriam ficar isentos aqueles que demonstrassem pelo IRS, ser ou estar abaixo do limiar da pobreza. Um dia destes passei junto ao rio Este; estava um princípio de tarde soalheiro, embora corresse um ventinho ponteiro que gelava as orelhas e avermelhava a ponta do nariz. Pois, apesar deste vento mordaz, havia gente que se estava a aquecer ao sol nos bancos de pau, que as ervas vizinhas, ainda brancas de geada emprestavam à aragem um arrefecimento forte. Eram meia dúzia, se tanto, os que se sentavam na ponta do banco, não branco; eram poucos dir-me-ão, mas quantos mais não necessitariam de estar ali, porque ali era mais quente do que a casa onde viviam? Gostar dos velhos não é só ter pena deles em discursos de circunstância, é também, e principalmente, dar-lhes conforto que é o único nível de vida que lhe podemos dar sem os ofender com um subsídio que tresanda a esmola. Esta pode aliviar a boca mas marca a existência com o ferrete da ofensa à dignidade. Se aquela meia dúzia absorvia o calor de inverno, num banco público semigelado, pudesse trocar aquele lugar pelo quentinho de sua casa, por qual das situações optaria? Também ali faltava, certamente, a pobreza envergonhada, a que esconde dos outros a falta de dinheiro para aquecer as suas casas, onde o aquecedor que os filhos lhes deram no dia dos anos, está morto porque gasta muita “luz”. E a energia que aquece, ou mesmo que refresca nos dias escaldantes, é tão necessária ao corpo como a malga de caldo que lhe dão pelo Natal. As câmaras, o Estado, a EDP e, sei lá, alguns mecenas, poderiam juntar-se e, em “santo” conluio, concordassem em dar-lhes a gratuitidade da eletricidade, para que os seus velhos mais desprotegidos não necessitassem de se sentar num banco gelado para se aquecer ao sol de um dia de inverno. Fica o apelo como uma prece.