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O político do “diabo”

Desde 2015 que o “diabo” anda por aí. À solta. Adquiriu o papel de personagem principal do show da política nacional. Quem diria que o mafarrico iria ter um protagonismo fora do comum. Entra sempre em cena e com um arreganho inaudito. Às vezes amuado, outras vezes irritado. É mais notório, quando está em dificuldades argumentativas e à deriva ou embrulhado nas sombras das promessas feitas e veladas a um povo pobre. Um povo cada vez mais pobre. Povo também a ser atirado para as bermas das ruas das cidades maiores. E sem umas migalhas...

O demissionário em oito anos à frente da nau e mais uns tantos noutras embarcações anteriores não conseguiu suster as tempestades da longa viagem do país. Foi premiado com condições únicas para comandar a rota da nau com acerto e eficiência. A verdade é que não soube, nem teve visão para surfar a boa onda. Deixou-se enrolar nas areias movediças dos casos e dos casinhos. E dali não saiu. A gabarolice, entretanto, não deu boa sorte. Nem dá bom norte.

 


1 - O “diabo” tem sido a mão amiga, a estrela gloriosa e a áurea birrenta do demissionário para se esquivar aos problemas que tem arranjado. É a gavinha desajustada e frágil para imputar aos outros a estagnação social e económica em vigor. É a escapatória para arregimentar os sectários das causas falhadas e os ceguetas que não querem ver o caminho tortuoso e enlameado por onde anda o país. O país está, de facto, às migalhas e às pedinchices!

O “diabo”, que não veio no tempo útil por casmurrice ideológica, era, inicialmente, o argumento plausível para sufragar os sacrifícios exigidos pelo Resgate Financeiro e que tanto trabalho deu para o resolver. Depois, a “besta” ganhou outro corpo. Metamorfoseou-se como aconteceu no comício electivo da FIL, comício com marcas e sinais coreanos, dando a entender à plebe que, no Rato, as maldades sociais têm a benção acrítica da cúpula. Aí, o demissionário brilhou com as suas tiradas geniais, como é seu timbre, e até extravasou a “maldição” que, afinal, o “diabo” se tinha disseminado por toda a ala Direita.

 


2 - O “diabo”, como bem se sabe, apareceu pela primeira vez como figura de destaque nos momentos a seguir ao assalto ao poder em 2015. A verdade é que depois de quatro anos de afligidos sacrifícios em que Passos Coelho fez tudo com sucesso para retirar o país da rota do inferno socrático, os neo-socialistas, na sua táctica de desvalorizar o esforço despendido, se vêem agora “obrigados” a aguentar um radical na sua chefia com pele trabalhada de moderado. Até querem obrigar as pessoas a acreditar sem remissão que é um “social-democrata”. A política tem destas coisas anómalas e imperceptíveis. A gente tem que se habituar a ouvir estes dislates democráticos. Ouvir é uma coisa - tolerância. Aceitar é bem diferente - espírito crítico.

 


3 - O “diabo” aí está, bem activo e cheio de vigor: na mortalidade excessiva; no caos da Saúde; na falta de habitação pública que arrasta muita gente para o dormitório a céu aberto; na incompreensão nas Escolas em que, nesta altura do ano lectivo, ainda há largos milhares de alunos sem professores; no descontentamento das forças policiais que se manifestam pela igualdade de direitos em relação aos seus camaradas da PJ; na célebre morosidade da Justiça que não se é capaz de dar um toque reformista a este pilar fundamental da democracia; na maldita e vil pobreza que assapou as suas estacas nos terrenos lodosos de uma política de amigos, de clientes, de favores, de boys.

 


4 - Estão reunidas as condições necessárias para mudar o paradigma da estagnação, da opacidade, da pobreza. Basta desalinhar com o caminho da propaganda e do embuste. É preciso acabar com as esmolas e com os fingimentos. É preciso enviar o neo-socialismo para as cavernas da arrogância, das ilusões, das políticas do faz-de-conta. É preciso dar uma outra alma, uma outra vontade, uma outra “utopia” a este povo que se vai contentando com umas migalhas amargas que caem das bordas dos pratos fartos de iguarias requintadas dos amigalhaços. É preciso MUDAR ISTO, sem o verniz da “humildade e da empatia”. Para o que lhe havia de dar!

Armindo Oliveira

Armindo Oliveira

21 janeiro 2024