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Observemos de fora a passarada

 

 

 

 

 Vai-se tornando cada vez mais claro que as próximas eleições legislativas vão ser uma luta entre direita e esquerda do espectro político. Sempre assim será porque de um lado deseja-se a igualdade à força e no outro a liberdade do sujeito. E o choque, se não vai ser determinante porque em democracia tudo está sempre a remoçar, vai ser pelo menos pouco harmonioso. É o coletivo contra o sujeito. A farsa começou na passarada: os principais possíveis primeiros-ministros até já mudaram de tom: um, do ronco fez um pio, tão brando quanto melodia para adormentar; o outro, de um pio fez um ronco tão fora de tom como um mau falsete. Mas no fim do festival, mal se apaguem as luzes, toda a passarada volta ao costumeiro. Nesta sinfonia se engalha a sedução, isto é, a caça ao voto. E a par desta modelação de voz, um já virou social-democrata, o outro já fala mais à esquerda; ambos cantam no vem o canto no orfeão da sedução. Se fosse um circo não seriam trapezistas; eram certamente equilibristas na arena da democracia. Um promete tudo sem desequilibrar o OE, é o milagre da multiplicação do orçamento; outro promete igual sem falar no OE, para não ser obrigado a mentir. É melhor não falar em contas porque elas, para dar certas, não podem estar sem saldo. Também temos neste mundinho mais apagado, uns pardalitos que piam, piam, piam, para entrar na gaiola onde está o poleiro. Mas, a verdade, é que alguns destes, debaixo das asas dum pássaro maior, lá conseguem um lugarzito onde não cantam, mas pipilam. Sempre é alguma coisa. Antes migalhas que fome. Há um pássaro que voa sozinho e dá bicadas fortes. Traz no bico palhas velhas para construir um novo ninho. E são estes os protagonistas das próximas eleições legislativas de Março. Um deles vai mandar nos lusitanos! Se Viriato cá voltasse! Observar de fora é usar o binóculo sem lentes partidárias, mas também saber que há, nesta época de propaganda, um baile de máscaras em que cada candidato afivela a sua à sua maneira. Numa das faces brilham as promessas como lantejoulas, mas na outra está a verdade do depois . Olhar para o passado, e concluir que ninguém muda assim tanto em tão pouco espaço de tempo, é uma maneira de não nos deixarmos iludir. E é neste jogo de promessas que deixamos, nesta fase de enganos, muitas vezes, o destino de um povo! Dizia Camilo Castelo Branco que “a sala de visitas é o lugar onde se representa a comédia social”, Direi: a campanha eleitoral é essa sala de visitas. Se na sala de visitas se trocam amabilidades hipócritas, numa eleição, essa hipocrisia chama-se demagogia. Tiremos de nós o melhor juízo, para errarmos menos na escolha. Devemos votar para não nos arrependermos.

 

Paulo Fafe

Paulo Fafe

15 janeiro 2024