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No Dia Mundial do Compositor

 


O Dia Mundial do Compositor, que hoje se celebra, surgiu com o intento de homenagear todos aqueles que escrevem música1. Celebrou-se, pela primeira vez, em 1945, comemorando a fundação da Sociedade de Autores e Compositores do México. Contudo, só em 1983 começou a ser mundialmente comemorado.

Se é verdade que são muitos os que compõem música, também o é que nem todos têm formação, arte e engenho para tal. Contudo, quem o consegue fazer acaba até por superar outras limitações: “Não consigo escrever poesia: não sou poeta. Não consigo dispor as palavras com tal arte que elas reflitam as sombras e a luz: não sou pintor. (...) Mas consigo fazer tudo isso com a música” (W. A. Mozart).

Todos os compositores merecem o nosso apreço, particularmente neste que é o seu dia. Dada a minha predileção pela música clássica, não se admirarão os leitores que me detenha apenas nos compositores de tal música e, entre eles, nos que, neste ano, celebram algum aniversário.

Começo por assinalar os duzentos anos do nascimento do compositor austríaco Joseph Anton Bruckner. Nascido em Ansfelden, a 4 de setembro de 1824, e falecido em Viena, a 11 de outubro de 1896, compôs diversas sinfonias e missas, assim como um Te Deum e vários motetos. A mais popular das suas sinfonias é nº 4, em mi bemol maior, vulgarmente designada Romântica. 

O seu estilo musical foi tão influenciado por Richard Wagner, seu compositor preferido e amigo próximo, que muitos pensam ser Bruckner para a música instrumental o que foi Wagner para a vocal. As dissonâncias, modulações despreparadas e harmonias itinerantes das suas composições contribuíram para um certo radicalismo musical que carateriza as composições musicais da atualidade.

Passo agora aos cento e quarenta anos de falecimento de Bedrich Smetana, compositor checo. Nasceu em Litomysl, a 2 de março de 1824, e faleceu em Praga, a 12 de maio de 1884. Começou a ficar surdo aos 50 anos, aquando da estreia da sua ópera As duas viúvas. Durante dez anos de surdez, compôs ainda as óperas O Beijo (1876), O Segredo (1878), A Parede do Diabo (1882) e, em 1874, o belo e famoso poema sinfónico Má Vlast (Minha Pátria).

B. Smetana é o pai da escola musical checa, de que Antonín Dvorák foi o continuador. 

Neste ano, comemora-se ainda o centésimo aniversário de falecimento de Gabriel Urbain Fauré, compositor francês. Nascido em Pamiers (Ariège), a 12 de maio de 1846, e falecido em Paris, a 4 de novembro de 1924, foi um dos mais proeminentes compositores franceses da sua geração, cujo estilo musical influenciou muitos compositores do século XX. O Requiem é a mais conhecida das suas composições, mas há outras: Pavane, Sicilienne, noturnos para piano e as canções Après um rêve e Clair de lune.

Durante os últimos vinte anos da sua vida, sofreu de surdez crescente, o que fez com que, em contraste com o encanto da música anterior, as suas obras deste período sejam ora evasivas, ora turbulentas e apaixonadas. A sua música liga o fim do romantismo ao modernismo de meados do século XX e as suas inovações harmónicas influenciaram o ensino da harmonia para as gerações posteriores.

Assinalamos ainda, neste ano, o centésimo aniversário de falecimento de Giacomo Puccini, compositor italiano. Nasceu em Lucca, a 22 de dezembro de 1858, e faleceu em Bruxelas, a 29 de novembro de 1924. Destacou-se como compositor de óperas, sendo La Bohème, Tosca, Madama Butterfly e Turandot as mais conhecidas. Muito executadas pelas Bandas de Música, algumas árias das suas óperas tornaram-se, entre nós, bem conhecidas2. 

Por último, não podemos deixar de mencionar o centésimo aniversário de nascimento de Joly Braga Santos, compositor português, sobre o qual já aqui escrevemos. Nasceu em Lisboa, a 14 de maio de 1924, e aí faleceu, a 18 de julho de 1988. Entre outras obras, compôs quatro sinfonias e a ópera Trilogia das Barcas, baseada em Gil Vicente e estreada em 1970, no Festival da Gulbenkian. É considerada uma das maiores obras do repertório lírico português.

Quando foi eleito pela UNESCO como um dos dez melhores compositores de música contemporânea de então, Joly Braga Santos comentou, parafraseando Igor Stravinski: “Não me considero compositor, mas sim inventor de música”.

 Inventores de música ou compositores, hoje os celebramos e lhes agradecemos o legado musical com que exprimiram as suas ideias e sentimentos e não deixam de influenciar o nosso modo de pensar, de sentir e de exprimir o que nos vai na alma. 

1 Os que escrevem música e a interpretam são hoje vulgarmente designados cantautores, uma palavra que, contudo, não consta dos dicionários de língua portuguesa.
2 “Che gelida manina” (La Bohème) e “Nessun dorma” (Turandot) são apenas dois exemplos entre diversos outros possíveis. 

 

 

P. João Alberto Correia

P. João Alberto Correia

15 janeiro 2024