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Vale tudo

Se dúvidas houvesse sobre tentativas de aproveitamento de situações do nosso quotidiano para fins meramente políticos e eleitorais, as mesmas ficaram desfeitas depois de mais uma intervenção, despropositada, incoerente e demagógica da Coordenadora Nacionaldo Bloco de Esquerda, a deputada Mariana Mortágua, a propósito das alegadas baixas taxas de cobertura vacinal da população portuguesa na “época gripal” que atravessamos.

A reboque de mais um capricho estritamente ideológico, eventualmente até desinformado, é agitado o repetitivo e cansativo argumento sobre o papel dos intervenientes privados na saúde. Referimo-nos em particular às farmácias, e à debalde tentativa de assacar-lhes responsabilidades – entretanto desmentidas e recentradas – sobre os referidos índices e, consequentemente, sobre as altas taxas de morbilidade e mortalidade a que assistimos neste período.

Conforme foi tornado público, a maioria das pessoas (mais de 60%) foi vacinada nas farmácias e a cobertura vacinal na campanha 2023/2024 estará em linha com a de anos anteriores, prevendo-se inclusivamente a possibilidade de se superarem os valores anteriores, numa clara demonstração de que não são as farmácias que estão a falhar e que as mesmas terão mesmo ajudado a reduzir a “hesitação na vacinação” decorrente do apelidado pela Diretora Geral de Saúde de “ fadiga vacinal”, fruto de dois longos anos de receios e necessária vacinação 

O mesmo capricho, recorde-se, que em seu tempo e com as consequências já conhecidas, ajudou a espetar mais uma facada no exaurido Serviço Nacional de Saúde (SNS) com a decisão do fim das parcerias público privadas na saúde.

Sou, assumidamente, defensor de um SNS forte e preparado, mas tal não significa que se desdenhe o papel do setor privado ou social que muito poderão contribuir, direta ou indiretamente, para o referido desiderato.

Surge esta declaração, sem pompa nem circunstância, à porta de um centro de saúde, como bem mandam os marketeers políticos, a reboque das infindáveis notícias da falência evidente do SNS, com a sugestão de que deverá continuar o prestador público, orgulhosamente só, a arcar com a responsabilidade de garantir índices mais elevados de cobertura vacinal.

É sem dúvida curioso, ter recentemente a mesma interveniente colocado em cima da mesa a possível necessidade de intervenção de investidores, quer do setor social, quer do setor privado, na mitigação das graves consequências que, infelizmente, assistimos defluentes da conhecida crise da habitação. 

Ora, tanto num dia são os privados malfeitores e aproveitadores, como no outro potenciais desbloqueadores de soluções e essenciais na resolução de graves problemas sociais.

Fazê-lo desta forma, tanto mais acusando oportunisticamente um prestador unanimemente reconhecido pelo seu papel assistencial, crucial no sistema de saúde, pelo seu desempenho em diversas funções que contribuem para o bem-estar e para a promoção da saúde da população, é manifestamente revelador da falta de rigor empregue na prossecução dos referidos objetivos políticos.

Terá, com toda a certeza, esquecido a garantia dada pelas farmácias na acessibilidade ao medicamento, em qualquer parte do país e a qualquer hora, inclusive nas mais remotas localidades; da prestação de aconselhamento farmacêutico permanente; da ativação de programas de saúde pública, dos rastreios e monitorizações permanentes de estados de saúde; entre tantos outros contributos decisivos para o bem-estar das populações. Representando, não só uma garantia, como não raras vezes funcionando enquanto válvula de escape do saturado SNS. 

É certo que atravessamos um momento particularmente frágil e agitado, com o país estagnado a braços com mais um “pântano político”, obrigando os cidadãos a pronunciar-se, uma vez mais, sobre quem desejam depositar a gestão do futuro do País.

Uma campanha longa, onde todas as situações, por mais pontuais ou difíceis de imaginar, servirão de pretexto para esgrimir argumentos e capitalizar votos nas urnas.

Mas não deve poder valer tudo… 

Diz o ditado que “as atitudes ficam com quem as toma”. Caberá a cada um de nós refletir e ajuizar em consciência. No próximo dia 10 de Março lá estaremos!

Mário Peixoto

Mário Peixoto

13 janeiro 2024