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Aborto: vergonha do género humano (Fim)

Com este artigo, termino a minha despretensiosa abordagem do complexo fenómeno do aborto. Conforme deixei dito, o aborto não é um problema exclusivo da mulher, mas da sociedade no seu todo. Em primeiro lugar porque, do ponto de vista sociológico, nenhum país deve viver em inverno demográfico; em segundo lugar porque é preciso diminuir a incidência do aborto na sociedade ocidental, que se encontra com saldos fisiológicos negativos; e em terceiro lugar porque se torna necessário ajudar a mulher a prevenir a gravidez indesejada. Tudo o que fiz foi com o intuito de informar e consciencializar uma opinião pública que tem de ser chamada a contribuir para a resolução de um problema social que contende perigosamente com o futuro do nosso país.

No século passado, difundiram-se na Europa diversas técnicas anticoncecionais, artificiais e naturais, como forma de prevenção da gravidez não desejada. E se muitos casais as usaram com sucesso, muitos outros continuaram a não as usar, ou a usá-las mal. E muitos desses casais que falharam na aplicação dos métodos que entretanto se foram popularizando (método Ogino, pílula, temperaturas, diafragma, stérilet), continuaram a recorrer ao aborto para controlo da natalidade. Daí que o chamado planeamento familiar não é suficiente para diminuir de forma drástica um fenómeno que eu considerei ser a vergonha do género humano.

Se o homem deve assumir a sua responsabilidade na hora de contribuir para uma geração indevida; a mulher deve assumir uma responsabilidade maior, porque tem obrigação de conhecer o seu ciclo reprodutivo. Parece-me, pois, que muitas jovens e mulheres em idade fértil estão mal preparadas para iniciarem os seus relacionamentos amorosos. Se a sociedade falha (mormente a família) nesta aprendizagem elementar, o Estado tem de intervir de modo supletivo, facultando à sua população a informação e os meios necessários para a fruição de uma sexualidade responsável e de uma maternidade feliz. Mas o Estado, tal como noutras questões, também aqui intervém a jusante do problema, isto é, quando um embrião já se desenvolve no seio de uma mulher. Tarde demais!

As políticas de montante raramente são pensadas e quase nunca aplicadas. Fala-se muito da necessidade de planeamento familiar, mas pouco de sexualidade responsável e nada de controlo das emoções pela razão. Será que o homem não poderá abster-se de ter relações sexuais com a esposa, namorada ou companheira durante os seus ciclos reprodutivos? É que o amor não pode assemelhar-se a um mero ímpeto animal. De maneira nenhuma! Bem sabemos que a indústria do sexo tudo faz para que a sexualidade continue a ser praticada de modo desregulado e irresponsável, porque ela própria vive da procura da pornografia, do satanismo, da homossexualidade, das sex shops, das próprias clínicas privadas do aborto.

Trata-se de um capitalismo sórdido que está a envilecer o homem contemporâneo, pois confunde sexo com amor, troca de cônjuge como troca de carro, faz do casamento um instituto descartável, enaltece o amor-próprio e despreza o próximo. Mas o homem entregue a si mesmo não é livre; é uma criatura perdida que, quantas vezes, é arrastada para o vício e para a dependência de drogas e de fármacos, aditivos com que procura aligeirar o fardo da sua existência. Sim, o homem contemporâneo esqueceu-se do amor, da castidade e da imensa gratidão que há num casal que se respeita, que não precisa, sequer, de métodos contracetivos para evitar gravidezes indesejadas.

A escola pública deveria voltar a ter (já teve a disciplina de Noções Básicas de Saúde) um módulo educativo devidamente sustentado cientificamente sobre a gravidez humana, com recurso a imagens ilustrativas de todo o processo reprodutivo, desde a fecundação ao parto. Essa lecionação deveria ser confiada a um profissional altamente qualificado (estou a lembrar-me de psicólogos ou enfermeiros, e não falo dos médicos, porque fazem falta nos hospitais e nos centros de saúde), para que a transmissão do conhecimento fosse feita com a maior competência possível e levasse as novas gerações a persuadirem-se da importância da fruição de uma sexualidade responsável.

Portugal tem uma taxa de mortalidade infantil muito baixa, e muito trabalhou para isso; por que não trabalha para ter o mesmo sucesso nas taxas dos abortos legais e clandestinos?

Fernando Pinheiro

Fernando Pinheiro

13 janeiro 2024