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Duas guerras: violência e sempre violência. Até quando?

Infelizmente, continuamos a viver num planeta que recorre à guerra para resolver os seus problemas. É possível que, para além da Ucrânia e de Gaza, haja outros conflitos a que os “media” do nosso mundo não prestam tanto a sua atenção. Mas aquilo que acontece na Ucrânia e no Médio Oriente é de facto o foco da atenção do jornalismo internacional, quer pela relevância dos contentores, quer pelos aspetos que despertam o interesse de todos nós, que vivemos em parte dependentes daquilo que os meios de comunicação nos vão apresentando todos os dias.

São dois casos diferentes, porque os motivos que levaram aos confrontos têm as suas particularidades.

O que se passou na Ucrânia e que, infelizmente, ainda não terminou, parece que dependeu da vontade bélica de um ditador com grande poder, que, é suposto, calculou de forma superficial a relevância e as consequências de uma atitude de ataque a um país com menos força e desprevenido. Está objectivamente a sair-lhe mal a iniciativa. Além de não conseguir alcançar os objectivos que pretendia com a sua suposta “Operação militar especial”, provocou a reacção patriótica de todo um país e de muitas nações que a auxiliam. Pior ainda: deu origem a uma guerra que não se vê que possa terminar com brevidade. E, quando uma situação destas ocorre, há sempre vítimas do conflito, perdas de vida de pessoas com bombardeamentos crus e brutais, para não falarmos já da quantidade tremenda de militares que morre de ambas as partes. Vladimir Putin, com a sua iniciativa, obrigou a deixar esta vida centenas de milhares de seres humanos. Certamente que a maioria diz respeito a soldados, mas estes são tão pessoas humanas como quaisquer cidadãos que sucumbiram em ataques e bombardeamentos destruidores de lares indefesos, ou de lugares pacíficos onde a gente vive o seu dia a dia. 

Não sabemos bem o que se passa na consciência deste ditador. As mortes de tantos seres humanos não parece afectá-lo muito. Decerto que já não se atreverá a falar da inocente “Operação militar especial”, com que, ingenuamente, invadiu a Ucrânia... O que provocou foi uma guerra no sentido próprio da palavra, que já custou ao povo russo o luto de muitas famílias pela morte de um seu membro, levado para a Ucrânia como militar e que aí se ficou, voltando à sua terra apenas o seu corpo para ser condignamente sepultado. E o mesmo se diga, embora, em menor quantidade, de soldados ucranianos.

Já não bastava este conflito, quando, em Outubro passado, o mundo assistiu ao começo de um outro, violento e implacável, quer pelo modo como se iniciou, quer pela resposta de quem recebeu a agressão. 

Na realidade, é inqualificável que haja um ataque terrorista, que vitime de uma assentada uma quantidade tremenda de pessoas indefesas. Por detrás de esta acção, há certamente um passado contundente de ódio e desespero por parte de quem leva a cabo tal cometimento. Mas, ao mesmo tempo, uma falta total de respeito pelo ser humano e uma vontade despótica por fazer desaparecer desta vida pessoas como se fossem monstros ou réus de morte, pelo facto de pertencerem a um grupo social diferente absolutamente nefasto e inimigo, cuja existência não pode aceitar-se.

A violência incontrolada, mas premeditada, dá lugar a uma resposta do mesmo calibre. E uma guerra de represália e de destruição está a decorrer, como observámos, não sendo previsível prever o seu termo e também a suas consequências finais. 

Será o homem tão pouco racional, que não se sinta capaz de compreender que as guerras não são a maneira própria de resolver as questões e as diferenças de pontos de vista a respeito dos problemas da convivência entre si? E não entende que é necessário que haja um respeito pleno pela vida dos outros, ainda que as diferenças raciais, ou até religiosas, possam dificultar, por vezes, o bom relacionamento e a paz?

P. Rui Rosas da Silva

P. Rui Rosas da Silva

10 janeiro 2024