Não é por se repetir muitas vezes a mesma frase que vai ser compreendida. Se estiver com erros ou mal construída, jamais lhe retiraremos um significado. Também as palavras ditas da mesma maneira nunca chegarão a ser escutadas se o ouvido não estiver receptivo ou simplesmente não funcionar; pode acontecer que até comecem por entusiasmar os ouvintes, mas se não tiverem consequências deixarão de ser escutadas nas repetições seguintes. Do mesmo modo, percorrer um determinado caminho muitas vezes pode não levar-nos a lado nenhum ou podemos não chegar onde queremos. Para além disso, a mensagem pode não chegar ao receptor se os obstáculos entre este e o emissor forem intransponíveis. Certamente que já ouvimos cada uma destas frases, em diferentes circunstâncias, em momentos que já lá vão longe no tempo ou que se viveram há dias ou meses.
Ouvir repetidamente a mesma coisa cansa e desmotiva quem a escuta. E quem tem necessidade de a dizer tantas vezes é porque não será importante. As pessoas reagem com indiferença quando percebem que a narrativa que lhes é contada não tem originalidade ou quando descobrem que se trata de mentira. Há mentiras que não pegam e há mentirosos que já não são levados a sério. Conhecemos o ditado popular que diz mais ou menos assim: “quem mente uma vez mente sempre e mesmo que venha a falar verdade todos lhe dirão que mente”. O discurso pode até estar muito bem construído, ser claro e conciso e ainda adaptado à plateia, mas se já não entusiasmar os ouvintes não servirá os objectivos de quem o profere.
O reconhecimento de um ministro de que há problemas no Serviço Nacional de Saúde (SNS), o que não é vulgar acontecer, não basta para solucionar nenhum constrangimento. É preciso que diga que vai ser resolvido, em que prazo e com que meios. Andar a empalear não resolve. Dizê-lo apenas, mesmo que insistentemente, é poucochinho, para utilizar um vocábulo colocado em moda pelo primeiro-ministro ainda em funções, e é também irresponsável, para além de mostrar incompetência. As frases só têm força se forem consequentes. Só são valorizadas se servirem um propósito. Se não o tiverem, apreciadas do lado dos utentes do SNS, não valem um chavo e desrespeitam quem se vê a braços com a inevitabilidade de recorrer aos serviços de saúde.
O discurso de um ministro que tem certezas sobre a impossibilidade de ressarcir os professores de cortes salariais durante vários anos e que de um momento para o outro considera que afinal há fortes possibilidades da injustiça ser corrigida só leva aquele a ser acusado de prepotente e eleitoralista. A falta de respeito vulgariza os promotores e mais ainda quando há excessos, como é o caso. Os professores não se deixarão corromper por frases trambiqueiras e darão uma boa lição a quem faltar princípios básicos de gramática da ética.
Vêm de longe os programas de reformas, tantas vezes repetidos, que nos prometeram o caminho certo para chegar ao bem-estar e à prosperidade. Bem sei que nem sempre se acerta à primeira, à segunda ou à terceira, mas tantas foram as oportunidades que já era tempo de beneficiarmos das tentativas feitas. Infelizmente, o caminho tem sido repetitivo, não há meio de sairmos da cepa torta, apesar de comandados quase sempre pelos mesmos, no caso, pelo Partido Socialista que nos últimos vinte e oito anos nos guiou durante vinte e dois. O labirinto pode ser um jogo aconselhável, mas o exercício que precisamos de fazer, mais cedo do que tarde, é sair daquele em que nos encontramos. A responsabilidade está bem determinada e não podemos mais correr o risco de ficarmos no dédalo a labirintar. Precisamos de decidir acertadamente para, da próxima vez, já em 10 de Março, começarmos a seguir por outro caminho. Aposto umas férias sem falar dele e do seu partido aqui na crónica em como Montenegro anda a menorizar a importância de muitos dos eleitores à sua direita.