Onde temos a nossa cabeça? Em cima do nosso corpo, obviamente. É inevitável, mas também é capaz de ser um problema.
No fundo, a nossa cabeça está em cima do nosso «eu». Está, portanto, condicionada por ele. Daí a nossa inata – e incoercível – tendência para o egoísmo.
É pelo nosso «eu» que vemos o mundo e a vida. É pelo nosso «eu» que vemos o próprio Deus.
O nosso «eu» faz leituras, avaliações e juízos sobre todos e sobre tudo. O nosso conhecimento está tão «ego-centrado» que nem cuidamos de dar atenção a outros «eus».
Tão grande é, pois, a lição do Apóstolo João. Na Ceia Pascal, a sua cabeça está sobre o peito de Jesus (cf. Jo 13, 25; 21, 20).
É assim que deverá proceder todo o seguidor de Cristo: «desegoízar-se» completamente, da cabeça até aos pés.
Neste sentido, é sempre com preocupação que ouvimos repetidamente dizer: «Eu cá penso sempre pela minha cabeça».
Tornou-se trivial. É sinal de independência, mas também de auto-suficiência.
Cada um de nós é chamado a pensar não individualmente, mas cristocentricamente.
Um cristão não tem vida – nem cabeça – própria. Parafraseando a Carta aos Gálatas, dir-se-ia que não é o cristão que pensa; é Cristo que pensa nele (cf. Gál 2, 20).
Os nossos irmãos orientais valorizam muito a posição da cabeça do Apóstolo João.
É por isso que se lhe referem com o título de «epistemios». Eles perceberam que o conhecimento não vem de nós, mas de Cristo, do Seu coração.
Para Xavier Zubiri, «pensar é comover-se», isto é, «mover-se com». Neste caso, com – e para – o coração de Cristo e dos irmãos.
Por sua vez, São Francisco de Sales não diz que os lábios falam aos ouvidos nem que o pensamento comunica com outro pensamento. Para ele, é o coração que fala ao coração («cor ad cor loquitur»).
Que cada um de nós se torne joaninamente «epistemios». Que o nosso conhecimento seja inseminado na torrente que jorra do coração de Cristo.
Ele é o verdadeiro sábio na «cátedra do Seu coração». Só no Seu coração cresceremos na razão.
Comecemos hoje – agora, já – a encostar a nossa cabeça ao coração de Cristo. Aí beberemos o amor que levará ao mundo um caudal transformador.
Não hesitemos nem calculemos. Como alerta Sean O’Malley, «dá duplamente quem se dá prontamente».
Não é só amanhã que o amor de Cristo há-de florir. É já hoje que o amor de Cristo tem de (re)surgir.
Que o amor do Seu coração semeie mais amor de mão em mão!