2024 é um ano de três atos eleitorais: Açores, legislativas e europeias. E nós lá vamos votar com a mesma ligeireza de um hábito por anos adquirido. É a nossa colherada de democracia porque entendemos, e bem, que a democracia se expressa na escolha livre de candidatos em dia de eleições. Ora, não devia ser por hábito, deveria ser por convicção ideológica. Mas não é, senão por conveniência pessoal. Quem dá mais para encher o meu frigorífico? Percebendo que a ideologia não está no anseio das pessoas, é que os partidos viraram sindicatos! Melhores salários, mais regalias sociais, melhor educação e saúde… onde está aquele desejo de formar uma sociedade nova, com esta ou aquela proposta de constituição de uma sociedade? Desapareceu na voragem da necessidade individual: é na promessa que se vota. Isto vai acontecer por três vezes durante este ano bissexto. E na costumeira leda e cega que a “realidade” não deixa durar muito, parafraseando Camões, embebedamo-nos na ideia de mudança que, como D. sebastião, nunca chega. E lá vamos deitar a nossa colherada democrática na urna, no dia que nos marcaram. É como quem vai às procissões por hábito e não por devoção. Mas se esta colherada vai cheia de sabedoria por quem vamos votar, então a colher vira manjar democrático. Já não é uma pitada é um condimento. Os resultados nas legislativas de Março podem ditar uma ingovernabilidade porque pode não haver possibilidades de haver uma maioria parlamentar. Se assim for, o País mergulhará numa instabilidade política que de nada ajuda a um desenvolvimento sustentável. Ninguém arrisca investir num país em permanente convulsão. E todos sabemos quanto Portugal necessita de investimentos, nacionais ou estrangeiros, e quanto dessas possibilidades se diluirão se não houver uma maioria parlamentar. Ainda ando confuso sobre o que se passa quanto a coligações: o PS pode aliar-se à extrema esquerda e há bênção para nova geringonça, mas por que razão o PSD não pode coligar-se com o Chega? Será que o PCP e o BE são mais democráticos do que o Chega? Há medo do Chega porque nos faz lembrar o fascismo e não há medo do PCP/BE que nos faz lembrar o marxismo? Esta colherada incomoda muita gente e já em cavaqueiras de amigos, não obtive uma resposta cabal para esta dicotomia. Estou à espera.