Proponho-me, digo-o de início, retratar a História do País, no período indicado, em traços necessariamente gerais; isto é, abordá-la “pela rama” (dos pinheiros do pinhal de Leiria; acrescento de minha lavra). Portugal vivia a primeira década da ditadura do Estado Novo. Quem fosse durante ela nascido, entrava para a escola primária pelos sete anos de idade. Desde logo era imposta a separação de sexos: calções para um lado, vestidinhos para o outro (quanto à “alunagem”; os/as senhores/senhoras professores/as era na mesma: calças para um lado e saias para o outro!!
Mas uma coisa havia em qualquer sala de aula, pendurados na parede por trás da secretária professoral havia um Crucifixo, ladeado por duas muito maiores fotografias, uma de Salazar e outra do Presidente da República da época; numa crítica acintosa, os dois das fotografias eram o “bom e o mau ladrão” [in; “Filho das ervas”, de Júlio Pereira].
No que às classes político-sociais concerne, havia os apoiantes do regime; desde os mais acérrimos e interessados/interesseiros, incluindo os mais inocentes e/ou inconscientes, até aos mais também acérrimos opositores/adversários.
Estes últimos eram os operários, que lutavam por melhores condições laborais. Um dos exemplos mais significativos foi a Greve Geral de 18 de Janeiro de 1934 em todo o território continental, mais expressiva na vila vidreira da Marinha Grande; aqui ocorreram sabotagens e ocupações, violentamente reprimidas.
Eram também pequenos proprietários espoliados de propriedades rústicas, às quais o Estado Novo queria dar outros destinos. Expressivo é o romance «Quando os lobos uivam» (publicado em 1958 e logo apreendido), de Aquilino Ribeiro. [da sinopse, apenas estas palavras iniciais: “Serra dos Milhafres, finais dos anos 40, o Estado Novo resolve impor aos beirões uma nove lei: Os terrenos baldios que sempre tinham sido utilizados para bem comunitário (…) seriam agora "expropriados" e esses terrenos utilizados para plantar pinheiros.
“The last, but not the least” (“Por fim, mas não o mais insignificante”), não é necessário discorrer muito sobre a oposição política dos comunistas, na clandestinidade, e as lutas sem tréguas destes contra a P.V.D.E. (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado = P.I.D.E. (Polícia Internacional D.E.) = D.G.S: (Direcção-Geral de Segurança). “Mudaram as moscas, mas a mxxxx era a mesma”.
«Enquanto esteve à frente de Portugal, [Salazar] saiu do país apenas três vezes, sempre para compromissos na vizinha Espanha, em cidades próximas à…» (fronteira?) IN: “O patético final de um ditador feito de tonto até à sua morte” (www > uo1-com-br > colunas > pagina-cinco > resenha…)
O fim da ditadura do Estado Novo, com o derrube do governo chefiado por Marcelo Caetano e a deposição de Américo Thomaz, Presidente da República chegou com a “Revolução dos Cravos”. Por que não dizê-lo das “Rosas”?! É que estas flores têm muitos espinhos!! E os mesmos foram tirados de uns lados e postos noutros lados!
E temos andado a viver em democracia desde 25 de Abril de 1974. Umas vezes em águas mais ou menos calmas e outras vezes mais ou menos agitadas. Cá vamos cantando e rindo, levados sim, e que bem o somos; por vezes gemendo e chorando pelas ruas da amargura.
O ano velho de 2023 foi(-se), derreado com o peso do saco, cheio de promessas feitas e não concretizadas, de trocas de palavras agressivas dirigidas aos adversários. Muitos(?) partidos cospem para o ar, sacodem a água dos seus capotes para cima dos capotes adversários. E o ano novo de 2024, vergado ao peso da herança que o seu antecessor lhe deixou.
As vozes autorizadas do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa fizeram-se ouvir nas respectivas Mensagens de Ano Novo. O primeiro a pedir tento no clima de crispação que se vive entre pessoas e entre instituições. E o segundo a denunciar as dificuldades crescentes que pairam no horizonte; e a apelar à participação nas eleições que vão ter lugar durante este ano.