A nossa vida é cada vez mais uma «info-vida» e o poder é crescentemente um «info-poder». Pelo que a guerra tende a surgir também como uma «info-guerra».
Efectivamente, até os guerreiros – tal como notou Byung-Chul Han – se vão convertendo em «info-guerreiros», que não param de «info-guerrear».
Os inimigos reais aparecem assim – e inevitavelmente – como «inimigos digitais».
Os contendores já não se limitam a acumular conhecimento sobre os adversários. O mais importante passou a ser coleccionar «dados» acerca dos oponentes.
É por isso que – alerta o Santo Padre na Mensagem para o Dia Mundial da Paz – «os progressos das novas tecnologias apresentam […] graves riscos, com sérias implicações na prossecução da justiça e da harmonia entre os povos».
No que toca à Inteligência Artificial, «os resultados só serão positivos se nos mostrarmos capazes de agir de maneira responsável».
Acontece que a Inteligência Artificial «já está a introduzir mudanças dificilmente reversíveis na sociedade».
Ela exerce «uma influência profunda nas culturas, nos comportamentos sociais e na construção da paz».
É sabido que a produção de «textos sintáctica e semanticamente coerentes não é garantia de verdade».
Muitas vezes, «os referidos textos são usados em campanhas de desinformação que espalham notícias falsas e levam a uma desconfiança galopante».
A Inteligência Artificial até pode «desempenhar as tarefas que lhe são atribuídas com uma eficiência cada vez maior, mas a finalidade e o significado das suas operações continuarão a ser determinados pelos seres humanos».
O mais grave, porém, é «a utilização bélica da Inteligência Artificial».
Haja em vista que a responsabilidade humana «é mais do que um conjunto complexo de algoritmos».
Por conseguinte, tal responsabilidade não pode circunscrever-se «à programação de uma máquina que, por mais “inteligente” que seja, permanece sempre uma máquina».
Do que o mundo menos precisa é de que «as novas tecnologias contribuam para o desenvolvimento do comércio de armas, promovendo a loucura da guerra».
Daí que «as aplicações técnicas não devam ser utilizadas para facilitar a resolução violenta dos conflitos, mas para pavimentar os caminhos da paz».
Não podem ser as tecnologias a condicionar os valores.
Hão-de ser os valores a (re)orientar o rumo das tecnologias.
Impõe-se, por isso, a urgente instauração de uma «algor-ética». Ou seja, os algoritmos têm de ser guiados pelo farol da justiça, da solidariedade e da paz.
Caso contrário, a Inteligência Artificial depositar-nos-á nos umbrais de um cataclismo… real!