Mais do que em qualquer outra época do ano, na quadra natalícia impõe-se meditar sobre o que se passa à nossa volta e que tantas vezes nos inquieta. Neste tempo tão apropriado para fortalecer laços familiares, reforçar as relações com amigos e vizinhos, é imperioso olhar para o nosso semelhante e dar um pouco de nós para aliviar o sofrimento de quantos padecem de qualquer forma de privação.
A Humanidade vive ameaçada. As guerras e outros conflitos patentes em diferentes latitudes e os frequentes fenómenos atmosféricos extremos aprofundam as desigualdades, acentuam a pobreza e agravam o fosso entre ricos e pobres.
Nesta quadra tão especial para os cristãos, é decisivo que cada seguidor de Jesus Cristo relembre a sua doutrina e procure ter uma vida mais consentânea com os seus ensinamentos. Nos seus preceitos é sempre possível encontrar caminhos que nos permitam superar as dificuldades e nos possam conduzir a uma sociedade mais justa e mais solidária.
Tempo de reflexão e de esperança!
Reflexão sobre a realidade que nos rodeia e esperança num futuro melhor.
Realidade que, entre nós, nos mostra uma sociedade onde a população dos sem-abrigo aumentou, a pobreza cresceu e os jovens têm de procurar no estrangeiro as condições de vida que não encontram em solo pátrio.
Realidade que nos fez mergulhar numa inesperada crise política e nos colocou em suspenso de um ato eleitoral agendado para o próximo dia 10 de março do próximo ano.
Realidade que nos mostra um mundo em ebulição com vários focos de guerra e outros tantos conflitos latentes.
Esperança de que as próximas eleições legislativas nos tragam novos timoneiros capazes de resolver os arrastados problemas na Educação, na Saúde e na Justiça e catapultem Portugal para níveis superiores de progresso e de desenvolvimento. Que restituam ao país a estabilidade e tenham como prioridade o combate à pobreza e à ignorância.
Esperança no desanuviamento das tensões entre a China e os Estados Unidos da América e no apaziguamento dos vários conflitos em África e na América Latina.
Esperança no regresso da paz à Ucrânia, ao Médio Oriente e em todas as paragens onde o som das armas se sobrepõe à concórdia e à razão.
Neste tempo excecional, que esta mensagem possa contribuir para a vivência do verdadeiro espírito natalício entre todos os portugueses e os faça pensar sobre o nosso rumo coletivo. Mesmo que possa parecer fastidioso e contracorrente, é preciso não ter medo de dizer as verdades. Revisitar a História e dela colher os seus ensinamentos, é um exercício sempre muito útil e que ninguém deve dispensar. Rever a Doutrina Social da Igreja é outro caminho a seguir.
O Papa Francisco não se cansa de a proclamar.
Ainda na missa do passado domingo, na Praça de S. Pedro, em Roma, não deixou de enaltecer as virtudes de Jesus na humildade da sua manjedoura, para apelar aos cristãos: “Como os pastores que deixaram os seus rebanhos, deixa o recinto das tuas melancolias e abraça a ternura do Deus Menino. Sem máscaras nem couraças, confia-Lhe os teus cansaços, e Ele cuidará de ti”.
Em Portugal, país onde cerca de oitenta por cento da população se diz crente e em que a maioria se confessa cristã, é paradoxal verificar que há um grande desconhecimento da Doutrina Social da Igreja com as consequências sociais e políticas que se conhecem.
Que as palavras do Santo Padre encontrem terreno fértil, que o seu exemplo se difunda e possa tocar cada vez mais corações. Só deste modo será possível viver o verdadeiro espírito natalício e manter viva a esperança num futuro melhor.
Com este propósito, envio aos estimados leitores do Diário do Minho votos fraternos de continuação de Boas Festas e de um Feliz Ano Novo.