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Longe do presépio e sem estrela

Vivemos uma época propícia à formulação de votos de felicidade e prosperidade, para agora e para o futuro. Ora, isso não depende só de nós. Depende e muito de quem nos governa e de quem vier a seguir. Depende das escolhas que fazemos a cada ciclo, de escolhermos os melhores, os que nos dão mais garantias de futuro. Do passado, temos um histórico para avaliar, designadamente, sobre quem nos deixou perdidos no espaço e na mão de estrangeiros – ainda que não tenhamos perdido completamente a independência –, quem nos esmifrou até ao tutano quando nos tinha prometido tanto – ainda que condicionado pela assinatura de compromissos por parte de antecessores –, quem conduziu o país a pântanos e quem governou com autoritarismo. Houve uma certa alternância, ainda que desequilibrada, que nos trouxe até onde estamos hoje, longe do presépio e sem estrela, e há uns mais responsáveis do que outros. 

Não podemos renegar esse passado que ajudamos a construir, mas continuar a insistir no erro não será inteligente. Temos, hoje, mais opções para nos recusarmos a aceitar a recomendação do voto útil que não é, seguramente, o caminho a seguir, por apoucar iniciativas novas e nos levar aos mesmos caminhos de sempre. Algum partido que pede voto útil – ou seja, que votemos nele para confirmar uma tendência que vem dos estudos de opinião –, assume que uma parte dos seus deputados foram conseguidos com o voto de muitos que votaram simpaticamente no seu partido? Não diz que os votos são todos seus? Sem voto útil, a distribuição de preferências será natural e mais condizente com a realidade. 

Sabemos o que tem acontecido. Já vimos uns e outros dos que nos governaram a dizer uma coisa ontem e a propor outra agora, a prometerem algo durante as campanhas eleitorais e a esquecerem-se disso mesmo quando chegaram ao governo. Temos tido estrelas cadentes a orientar-nos os passos, que causaram boa impressão, brilharam e deram espectáculo, mas se esfumaram num ápice, deixando-nos às escuras. Se escolhermos os mesmos, não vamos ter estrela a sério. É que não vão fazer diferente de outras rotações. De ambos os movimentos de estrelas cadentes responsáveis por termos chegado até ao estado em que estamos – pobres e remediados, com corrupção instalada, um Estado Social que não resolve o futuro dos abrangidos pelas medidas de protecção - pelo contrário, os torna dependentes -, uma Justiça lenta e truculenta, um Serviço Nacional de Saúde a definhar e uma Educação com professores desmotivados – um é mais responsável, pelo tempo que esteve a iluminar o país, pelas tantas asneiras e apagões que nos fizeram pagar com dureza durante anos a fio. Deixá-los em roda livre, a governar como lhes aprouver e entregar-lhes o voto útil, não parece boa ideia. Que os erros que sempre nos saíram caros nos tenham aberto os olhos. Há muito mais futuro com outras opções, outra geração de estrelas. Reparem como, depois de se anunciarem novas eleições, tantas figuras escondidas nos seus interesses até agora, se levantaram a tomar partido disto e daquilo, a chegarem-se à frente para poderem vir a condicionar, a governar e decidir de acordo com os seus desígnios pessoais. É verdade que esta manifestação foi mais efusiva de um dos lados da geografia política, o que é normal quando o país está com menos tolerância para com as estrelas cadentes do outro lado, mas a ocasião não deve passar despercebida quando tivermos de decidir. Até lá, vale a pena reflectir um pouco que seja.

Em tempo de formulação de votos natalícios, as mensagens dos partidos denunciaram uma certa hipocrisia. Escreveram-se e verbalizaram-se a pensar mais em quem as emitiu do que nos destinatários. Não estiveram desprendidas de interesses, longe disso. As festas estão a ser um oportunidade, não para aqueles consoarem com o povo, mas para alguns se apresentarem como os únicos salvadores da pátria. Como haveremos de saber? Uma coisa é certa: continuamos longe do presépio e sem estrela.

Luís Martins

Luís Martins

27 dezembro 2023