Talvez sem saber como, «voámos» de Janeiro até Dezembro. E eis-nos, de novo, a «aterrar» em Janeiro.
Há muito que, para nós, o tempo deixou de ser «duração». O tempo passou a ser «aceleração». E, como plasmou Byung-Chul Han, está a tornar-se, cada vez mais, «dispersão».
Falta ao tempo uma cadência, um sentido. Parece que, no tempo, «andamos aos tropeções, sem qualquer rumo».
Cresce a sensação de que o tempo passa muito mais rapidamente do que antes. Corremos o risco de «envelhecer sem nos tornarmos adultos».
O mundo está «a ficar sem tempo». Estamos submetidos a uma «duração vazia, que se dilata sem princípio nem fim».
Dá a impressão de que, hoje, «não há recordações nem esperanças». Parece ter desaparecido a «bonne heure» («boa hora»), expressão muito conectada com a «felicidade» («bonheur).
O tempo não conhece «um presente duradouro». No fundo, «nada “é” tudo “será”».
As pessoas já «não admitem qualquer demora», muito menos «qualquer demora contemplativa».
Em vez de passear tranquilamente, «corremos de um acontecimento para outro, de uma informação para outra, de uma imagem para outra».
A liberdade é condicionada «sob a direcção de um ecrã». A nossa vida decorre «em companhias de superfície e chama-se “zapping”».
Será que somos livres»? «Ser livre não é apenas ser independente ou não ter compromissos». A raiz (indo-germânica) «fri» tanto faz derivar «livre» como «amigo».
Assim sendo, livre é aquele que, originariamente, pertence aos amigos. A pessoa torna-se livre no amor, na amizade. É, de facto, o compromisso (e não a sua ausência) que nos torna livres. «A liberdade é relacional por excelência».
Para isso, precisamos de demorar e a nossa época tornou-se a «época da pressa».
Acontece que a pressa não permite estar atento ao belo, já que «a beleza de uma coisa manifesta-se “muito depois”, à luz de outra coisa».
O belo «corresponde à duração, a uma síntese contemplativa». Não é «atracção fugaz, mas uma persistência».
Daí que a «época da pressa» não possibilite «qualquer acesso ao belo ou ao verdadeiro». Só quando alguém se dispõe a contemplar é que as coisas lhe «revelam a sua beleza, a sua essência».
A aceleração da nossa vida está a privar-nos de qualquer capacidade contemplativa. Os homens «sucumbem ao ruído dos aparelhos que tomam, quase, pela voz de Deus».
Ora, «Deus aparece em cada silêncio que surge quando os aparelhos técnicos se apagam».
Por tal motivo só quando o mundo estiver em silêncio, «se tornará audível como linguagem de Deus».
Que 2024 seja um ano de escuta e, portanto, de paz. E, nessa medida, de «duração, atenção e sossego». Só a calma nos embeleza. E embelezará a vida!