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Coevos somos, de duas guerras fratricidas

 

 

 

A actual (e inédita) guerra entre Moscovo e Kieve e a (enésima) invasão israelita de Ghaza). Muitos esperariam que por alturas do Natal de 2023, já houvesse um acordo de paz (ou de longas tréguas) na chamada “guerra da Ucrânia”; a qual pressuporia, obviamente um reajuste oficial de fronteiras, com base naquilo que a Rússia conseguiu conquistar (outros dirão “reconquistar”, “recuperar”) no campo da guerra. A intransigência do trágico e fanático Zelenski (e de Biden e da UE) não o permitiram, contudo. Por outro lado, em 7 de Outubro, os extremistas palestinianos do Hamas lançaram um inédito e bem organizado ataque terrorista, penetrando duma só vez, largas centenas de operacionais através da fronteira Gaza-Israel e causando ca. de 1.200 vítimas judaicas, com “requintes de crueldade” (mas fazendo também 250 reféns, facto que poderia ajudar a que a resposta israelita não fosse, como está a ser, notoriamente excessiva). No Sudão, na Etiópia, no Iémen, as guerras locais continuam. Felizmente na Síria e Iraque, os conflitos parecem estar estabilizados.
Os conflitos actuais na Ucrânia e em Ghaza, vistos como “guerras fratricidas”). Até certo ponto, trata-se de duas violentas guerras; que o são, terríveis, pois (ao menos a que opõe Kieve a Moscovo) são guerras entre povos-irmãos. Irmãos gémeos até, uma vez que a Rússia histórica começou à volta de Kieve, ainda no séc. IX d. C., num tempo em que Moscovo não passava de uma simples aldeola. A língua quase igual, o alfabeto cirílico, a religião ortodoxa, o sentido da História nos últimos 3 séculos, unem Moscovo a Kieve. E é sabido que as guerras civis, ou as guerras entre povos-irmãos (os quais só esperam é lealdade uns dos outros, e não traições) são com frequência as mais cruéis e violentas. Recordemos a Guerra Civil de Espanha (1936-39); a Guerra Civil nos EUA (1861-64); a G. Civil portuguesa, entre liberais e absolutistas (1832-34); as guerras de religião na Alemanha (séc. XVI) ou na Irlanda (séc. XVII a XX); ou na França (séc. XVII).
“Anti-semitismo”, um termo de que os judeus e os muitos países por eles influenciados, usam e abusam). Na sequência da grande afinidade, referida no capítulo anterior, entre russos e ucranianos (que não os impede de se guerrearem, agora), chega a vez de falar da relativa afinidade entre judeus e palestinianos. Não porque desde 1948 foi autorizada a criação do novo estado de Israel, precisamente no meio dum território que voltara a ser a “casa” dos palestinianos (os antigos filisteus, mas agora misturados com árabes e gregos); e isto, desde a expulsão dos judeus subsequente à destruição do Templo (70 d. C.), por Tito e Vespasiano. Não é por essa vizinhança. É antes porque, a origem histórica do povo de Israel localiza-se em Ur (no Iraque, na vetusta Caldeia, vizinha de Babilónia); lá, onde os velhos sumérios antes imperaram, quiçá vindos do sul do actual Paquistão. Ora Assírios, Babilónicos, Caldeus, Fenícios, Libaneses, Árabes, Iemenitas e Omanitas, todos eles pertencem a uma comunidade etno-linguística que se diz “semita” (descendentes do Sem bíblico); os europeus seriam netos de seu irmão Japhet; os marroquinos e argelinos, de outro irmão, Cam. Ora como disse atrás, o uso pelos judeus do termo “anti-semitismo” é com frequência, hipócrita e abusivo; uma vez que, os cada vez mais numerosos críticos dos judeus e israelitas, pouco ou nada têm contra os vários países árabes (que por norma até são, também eles, muito ou pouco, críticos de Israel e dos Judeus…). Os termos correctos (e lógicos) que caracterizam a aversão, a condenação das magnas políticas mundiais (visíveis ou “submarinas”) dos Judeus são: “anti-judaísmo” ou “anti-sionismo”.
Nada deve contudo impedir que alguém também possa criticar os Judeus). As Democracias são regimes em que a livre opinião, expressão (e até reunião) são a essência, a base, da convivência política. Quantas vezes eu próprio tenho sido um crítico (moderado, contido) das políticas israelitas mundiais. Algo menos moderado agora, ao reprovar a intransigência do patético Zelenski, cuja arrogância irresponsável pode levar, salvo seja, a uma Guerra Mundial (e atómica). Ou ao constatar as atrocidades vingativas praticadas em Ghaza: bairros inteiros arrasados, 12 mortos por cada morto do lado judeu… Contudo, não sou preconceituoso. Recentemente aqui no DM, até escrevi um artigo a lembrar o centenário do grande músico judeu Offenbach (em 10-12-2019). E juro, em 7 de Outubro eu estava a classificar (e ouvir pela 1ª vez), obras desconhecidas do grande Mendelssohn, contidas numa caixa de 45 CDs. No caso, um salmo (o 42?): “Wie der Hirsch schreit nach frischem Wasser” (quando o veado caminha para o fresco lago)… No CD 35.

 

Eduardo Tomás Alves

Eduardo Tomás Alves

26 dezembro 2023