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Dos presépios ao presépio

1. Com o aproximar do Natal regressa à atualidade a montagem do presépio. Lembra as circunstâncias do nascimento de Jesus (Lucas 2, 1-20), Deus que veio ao nosso encontro para recordar a cada um a dignidade de filho de Deus.

Hoje, o presépio é, sobretudo, mensagem. De amor de Deus e a Deus na pessoa dos outros. De fraternidade. De paz. De humildade.

 


2. Deverá haver, no coração de cada um de nós, presépio o ano inteiro. Ter um coração aberto ao acolhimento aos mais fragilizados. Ser promotor de paz, vivendo em paz consigo, com os outros, com Deus. Praticar a humildade evitando toda a forma de sobranceria, de prepotência, de distanciamento em relação aos outros. Viver a vida como serviço em favor do próximo privilegiando quem mais precisa. Ver no outro - seja ele quem for, tenha o que tiver, pense o que pensar – um irmão e como irmão o tratar sempre e em todas as circunstâncias. Tomar a iniciativa de ir ao encontro do outro a fim de o ajudar a ser mais. Oferecer o perdão se porventura em qualquer circunstância nos tenha magoado ou ofendido. Ter para com todos uma linguagem cordial e amiga.

 


3. Que a celebração do Natal seja um despertar de consciência face aos presépios ao vivo que, não encenados, existem durante o ano inteiro.

Que se ponha termo ao escândalo que é a existência de pessoas sem abrigo mas todos disponham de um lar acolhedor. Não haja pessoas sem trabalho digno dignamente remunerado. Não haja bebés abandonados nem idosos arrumados. Não haja jovens impedidos de prosseguirem estudos por razões de ordem económica. Não haja famílias sem pão, sem assistência médica e medicamentosa, sem agasalho, sem paz, sem carinho.

 


4. Vive-se o Natal como tempo de partilha. Há troca de prendas. Dão-se consoadas.

Que, em vez de irem para quem já muito possui, as prendas beneficiem quem mais precisa. Que os meninos de famílias pobres também possam sentir a alegria de um brinquedinho novo.

Que os cabazes do Natal não sejam uma forma de encobrir a falta de justiça social. Não sejam pagos com trabalho mal remunerado ou prestado em condições menos dignas. Não consistam em restituir salários que ficaram cativos.

Que os cabazes de Natal não façam esquecer carências vividas ao longo de todo o ano nem sejam rebuçados para entreter.

 


5. Viver o espírito de Natal é prestar atenção às diversas formas de pobreza. Não para, com esmolas, as pessoas continuarem a viver de mão estendida, mas fazendo o possível por eliminar as causas da pobreza. Que se ponha termo ao ciclo vicioso da pobreza contribuindo para que os pobres deixem de ser pobres. Que filho de pobre deixe de ser pobre. Que a pobreza não seja encarada como uma fatalidade. Que, sem humilhar as pessoas pobres, se proceda a um trabalho de educação das mesmas e se implante uma verdadeira igualdade de oportunidades.

 


6. Tenho a consciência de que estou a passar receitas. A pregar sermões aos outros. Que o Menino do presépio me ajude, na parte que me toca, a pôr em prática o que escrevi. 

Que esse Menino, Deus Todo Poderoso, nos ajude a usarmos bem da nossa liberdade. Dos bens de que somos administradores. A vivermos, em cada dia e a cada hora, a verdadeira mensagem do Natal.

Que os presépios das figurinhas deem lugar, no coração de cada um de nós, no meu e no seu, ao Presépio do amor, da fraternidade, da paz. Que nos  não distraia da situação desumana em que muitos irmãos nossos vivem o ano inteiro. Dos muitos Josés e Marias que não conseguem um lugar digno para os Cristos que hoje trazem ao mundo.

Silva Araújo

Silva Araújo

21 dezembro 2023