Nos tempos que (literalmente) correm, já não conseguimos «parar» nem «re+parar».
Por tal motivo, o mais importante escapa à nossa compreensão. E o mais belo é subtraído à nossa (apressada) sensibilidade.
Significativamente, quando Jesus nasceu, tudo parou. O autor do Proto-Evangelho de Tomé extasia-se na descrição. «Ergui o olhar para o Céu e vi que tudo estava imóvel».
Entretanto, na Terra, o cenário não era diferente: «Vi uma mesa posta para a refeição. Mas os que deviam mastigar não mastigavam. Os que tinham a mão erguida não a levavam à boca, todos petrificados, olhando para o alto».
Mais. «Eis que vinham ovelhas, mas não avançavam: estavam imobilizadas. O pastor ergueu a mão para lhes tocar e a sua mão ficou imóvel».
Por um momento, «tudo ficou parado. Foi então que nasceu o Verbo da vida. Chegou o momento dos supremos esponsais de Deus com toda a criação».
De facto, a correr não conseguimos ver e a gritar não somos capazes de contemplar.
É por isso que, segundo o relato genesíaco, Deus criou o homem para a «menucha», isto é, para o repouso do sétimo dia (cf. Gén 2, 2-3).
Isto significa que Deus não nos colocou no mundo para a correria – nem para as gritarias – destes nossos (devassados) dias.
Para Byung-Chul Han, «a quietude completa a criação; é mesmo a essência da criação».
Na visão de Franz Rosenzweig, hoje precisamos sobretudo de deixar «descansar a língua do tagarelar quotidiano, entregando-nos à escuta silenciosa de Deus».
Há, pois, que fechar a boca, à semelhança dos pastores e dos magos. Não consta que soltassem quaisquer palavras quando viram Deus feito Menino. Apenas olharam e – prostrados – contemplaram.
Ao contrário do que se pensa, a escuta em silêncio une as pessoas.
Como percebeu Byung-Chul Han, «só no silêncio somos unidos». É certo que é a falar que nos entendemos. Mas a experiência também dita que é a falar que (mais) nos desentendemos.
Olhando para Belém, incorporemos que «o princípio da educação é aprender a ouvir». E, acima de tudo, «a contemplação do sagrado impõe silêncio» pois «o silêncio faz escutar».
Não chegamos verdadeiramente a festejar porque não paramos. Nomeadamente para a religião, «é essencial a calma contemplativa». Por contraste, «o capitalismo não gosta da calma». Daí que «não reconte; apenas conte».
A Igreja faz comunidade porque «fixa a atenção». Já os visitantes de um monumento não constituem comunidade: «São massas ou multidões».
Para muitos, basta visitar os lugares. «Falta-lhes prestar a atenção profunda».
O mistério do Natal ajuda-nos a pausar os movimentos desenfreados do quotidiano. Assombrados por tamanho despojamento, os nossos (egocêntricos) vazios poderão voltar a «encher» e nunca mais a «inchar».
Acolhamos a recomendação de Paolo Scquizzato: «Empobreçamo-nos de tudo e enriqueçamo-nos d’Ele, do “tudo” que emerge de nós e nos transforma n’Ele».